Em 1999 escrevi “O Big Brasa e Minha Vida Musical”, iniciativa pioneira e única em Fortaleza e em todo o Estado do Ceará. O livro teve sua primeira edição lançada em uma memorável festa realizada em Messejana, onde foi criado o Conjunto Big Brasa, da qual participaram centenas de pessoas. Incentivo outras pessoas a registrarem suas experiências musicais, como forma de contribuir para a cultura e história musical do Estado. Fiquei muito feliz em ter conseguido transformar um sonho em realidade!
Mais um desafio surgiu com a chegada de 2017, quando completo 50 anos de ligação com a música, arte que marcou forte presença em minha vida desde criança, em São Paulo e depois em Fortaleza. A missão de escrever uma segunda edição muito me entusiasmou, trazendo agora todas as atualizações referentes ao que ocorreu nos últimos anos, como forma de complementação de nossa vida musical.
O mundo da música influenciou minha maneira de ser de forma significativa desde a infância e despertou algumas habilidades que talvez não aflorassem sem ele. Neste relato optei em separar fatos da minha vida musical antes da formação do Conjunto Big Brasa, daquelas experiências vivenciadas durante e depois da existência do grupo, todas pertinentes e de muito valor para mim.
Deste modo compartilho com você todas as minhas ligações musicais desde a infância até a adolescência. Esta portanto é a minha história de vida, com todas as ligações com o mundo da música e com vários aspectos de uma fase profissional muito importante de minha vida.
UMA VIAGEM MUSICAL NO TEMPO
Não espere uma obra literária mesmo porque não há pretensões neste sentido. Mas sim um relato simples e muito sincero, com todas as emoções de uma pessoa que começou a trabalhar muito cedo e que sempre foi apaixonado por música. Observei ao longo de minha vida que as ideias são mais importantes do que as regras, quando se trata da transmissão de fatos, de conceitos. Portanto, aqueles que se interessarem pelos conhecimentos aqui contidos, procurem ao máximo entender todos os acontecimentos estabelecendo parâmetros existentes aos anos em que eles ocorreram, ou seja, com as dificuldades do momento, o ímpeto da juventude, a falta de experiência em decorrência da idade. Sei que estes registros poderão servir para um resgate futuro de nossa simples mas honrada história musical. Preparados para uma viagem no tempo?
O COMEÇO DE TUDO
Não poderia deixar de escrever resumidamente sobre minhas origens e como conheci o mundo musical. Meu nome é João Ribeiro da Silva Neto. Nasci em São José dos Campos, São Paulo, aos 29 dias de abril de 1952. Filho de pais maranhenses, Alberto Ribeiro da Silva e Francisca Amasile Pereira da Silva (in memoriam).
A cidade, de clima frio, sempre foi muito agradável, limpa e calma. Tenho excelentes lembranças de minha infância. Alguns costumes do sul são muito diferentes dos nordestinos, por exemplo: quase sempre brincava sozinho, por falta de colegas. Talvez para preencher esses espaços minha me Zisile se desdobrava para me dar presentes sempre que podia, não somente brinquedos mas, principalmente livros, muitos livros.
A coleção completa de Monteiro Lobato, os Contos de Grimm, Contos de Andersen, Antes que Aprendam na Rua e a coleção Tesouro da Juventude, foram alguns de meus bons companheiros de infância.
MEU PRIMEIRO CONTATO COM A MÚSICA!
O aprendizado de música teve início para mim com seis anos de idade, quando comecei a estudar acordeon. Minha professora era Dona Ivone, que morava perto de nossa casa, na Vila Ema, ainda em São José dos Campos. Lembro bem que ela tocava as músicas para eu ouvir e depois me ensinava as melodias passo a passo. Como eu não tinha meu instrumento, ficava ao lado direito dela e usava somente o teclado de um acordeon de oitenta baixos de D. Ivone, de marca Scandalli. Comecei também a aprender um pouco os baixos, que no acordeon fazem a marcação e a harmonia das músicas.
Depois de alguns meses ganhei de presente meu primeiro acordeon, de catorze baixos, quando eu tinha seis para sete anos de idade. Com o presente novo, voltava da aula feliz, caminhando e tocando Rosa Maria, que segundo meus pais era a música que eu mais gostava, talvez por tê-la aprendido primeiro.
O segundo acordeon, aos oito anos, foi presente de minha mãe Zisile, também Scandalli, agora também de oitenta baixos, tão grande que eu conseguia nem segurá-lo de forma correta, mas com o tempo fui me acostumando. Estava acesa a chama da música em minha vida. O incentivo e gosto de meus pais pela música foram constantes. Como incentivo, até o bolo de meu aniversário de meus seis anos, muito grande e confeitado por minha mãe, tinha a forma de uma cítara!
TENTATIVA DE CONSEGUIR UM MILAGRE
Da infância e dos primeiros anos de música lembro um fato interessante que demonstrava meu apego à música. Certo dia, meu pai chegou em nossa casa trazendo um presente para mim. Eram cinco ou seis pintinhos, que ele ganhou como brinde em uma compra. Fiquei super animado e para curtir melhor os “brinquedos” eu os coloquei para nadar em um tanque no quintal de nossa casa. Devo ter ficado por alguns minutos me divertindo e olhando os pintinhos nadarem e logo depois, não sei por que motivo saí de perto, certamente envolvido com outra coisa e esqueci os pintinhos no tanque! Foi o suficiente para a tragédia.
Quando eu me lembrei deles e voltei correndo para continuar a brincadeira me deparei com todos flutuando! Uma tragédia, visto que morreram de cansaço. Pela altura do tanque, não conseguiram alcançar a borda e sair. A partir dessa visão eu peguei rapidamente o acordeon e fui para a frente de um oratório da minha mãe, onde fiquei muito tempo em pé, tocando desesperadamente para Nossa Senhora, pedindo que ela ressuscitasse os pintinhos, o que obviamente não ocorreu. Achava que com a música iria agradá-la e assim facilitar aquele meu difícil pedido.
Além do gosto pela música vale dizer que desde criança eu gostava de brincar com eletrônicos, de um modo geral. Montava e desmontava lanternas, pequenos circuitos para acender lâmpadas de lanterna, com instalações feitas na parte de baixo de mesas e camas. Mexia e fuçava em brinquedos eletrônicos, tentando consertá-los, sempre que podia. A música, a eletrônica e a tecnologia sempre me fascinaram.
A MUDANÇA PARA FORTALEZA
A vinda de nossa família de São Paulo para Fortaleza ocorreu no final de 1960. Moramos inicialmente no Bairro de Fátima, em uma casa por trás do Ginásio Nossa Senhora das Graças. Depois de algum tempo em razão do trabalho de meu pai nos mudamos para um apartamento que ficava perto da Igreja da Sé, no final da Avenida Costa Barros. Por volta de 1962 meus pais se mudaram para a Rua Mário Mamede, na 13 de Maio, quase atrás da Igreja de Fátima. Reiniciei os estudos de acordeon com o conhecido professor João Colares. Ensinava em sua própria casa, na Rua Joaquim Távora, perto do centro da cidade. Estudava uma temporada e parava outra, tendo em vista repentinas mudanças de residência. Não avancei o esperado, mas os seus ensinamentos serviram para que eu aprimorasse o conhecimento de leitura musical, chegando a tocar todas as músicas do livro básico e muito conhecido Mário Mascarenhas. Posteriormente ocorreu nossa ida para Messejana, em 1963, naquela época um pequeno e maravilhoso distrito a oito quilômetros de Fortaleza, de clima saudável, o que veio a constituir um marco importante em nossas vidas. Esta nova mudança nos trouxe muita felicidade, principalmente pelo meu pai ter realizado um de seus sonhos, o de comprar uma casa própria em Fortaleza.
Em Messejana no início me voltei totalmente para as diversões e passei uma boa temporada sem querer saber de música. Com muitos colegas para brincar, jogar bola e futebol de botão. Tudo o que faltava em São José dos Campos apareceu de repente em minha vida.
Dava um trabalho danado para a mamãe. Naquele período passei a estudar no Colégio Cearense Sagrado Coração (uma escola Marista).
Minhas vitórias: durante a terceira séria do curso ginasial fui campeão de Futebol de Salão em 1965, jogando como goleiro e também como atacante. Mas em compensação fiquei reprovado no final do ano em cinco matérias! É como dizia o ditado: “para jogar, um aço, para estudar, um fracasso”...
A ÉPOCA DAS DUBLAGENS
Aos catorze anos fui contagiado novamente pela música! Em Messejana, por todo o ano de 1964 eu e meus colegas nos reuníamos na garagem de nossa casa para fazer dublagens. Como funcionava assim: nós colocávamos discos na radiola, quase sempre compactos do Elvis Presley e começávamos a fazer as dublagens. Com direito a muitos aplausos no final, como se tudo fosse um show de verdade. Foram realmente bons tempos, de diversão muito sadia e tranquila para todos nós. Lembro que no grupo sempre participavam os amigos José Wellington, Luís Peixoto, Amaury Pontes, Sérgio Alves, Auristela Peixoto e outros meninos e meninas mais novos. Eram todos nossos vizinhos, que faziam parte da plateia.
Depois das dublagens quis aprender a tocar violão. Logo consegui que minha mãe adquirisse um, de tamanho médio, mas apesar da vontade eu não sabia nem mesmo afinar o instrumento! Nos dias seguintes descobri que perto de nossa casa morava o Zé da Senhora, um jogador de futebol do Salgado da Gama, time de Messejana, que sabia tocar um pouco e me ensinou a afinar o violão e os primeiros acordes. Lembro que uma de suas músicas prediletas era a Marcha dos Marinheiros. Nas primeiras semanas quase todas as tardes eu passava na casa dele para que afinasse o meu violão e tocasse alguma música e ele pacientemente me atendia. Logo depois voltava para casa e tentava repetir tudo até aprender. Passei vários dias com essa rotina, até ter aprendido afinar o instrumento. O violão sempre ficava disponível, em cima de uma cama ou cadeira, para facilitar o seu rápido acesso, e a busca por novos conhecimentos continuava.
Outra fonte de aprendizado foi com dois irmãos que tocavam algumas valsas de Dilermando Reis e outras músicas. Moravam perto do campo de futebol do Salgado da Gama. No violão, faziam batidas de bolero e muitas outras que eu ainda não conhecia. Não se negavam a ensinar o que sabiam, pelo contrário, ficavam muito satisfeitos com meu interesse. Por isso frequentei diversas vezes a casa desses rapazes e aprendi muito com eles. Há muitos anos não sei o paradeiro desses meninos, aos quais deixo registrado o meu agradecimento pela ajuda prestada.
Vale dizer que na década de 1960 existiam poucos meios para o aprendizado musical em Fortaleza. Em Messejana praticamente nada existia referente ao ensino de música. Muito diferente do farto material que está a disposição de todos hoje em dia, com revistas de músicas cifradas para violão, aulas e dicas em vídeo, pela internet e métodos para aprendizagem de todo o tipo. Isto sem falar na facilidade de conseguir as letras das músicas através de meios diversos. Naquele tempo a gente tinha que aproveitar todas as chances para aprender.
PAIXÃO POR MÚSICA E TECNOLOGIA
Com catorze anos fiquei mais interessado por música e por eletrônica e fiz um curso de rádio e televisão por correspondência e consegui me aperfeiçoar um pouco mais. Cheguei a montar um rádio, sob a orientação do curso e com todos os componentes fornecidos, como parte do treinamento. Comprava muitas revistas do gênero para pesquisar as novidades da tecnologia e diagramas esquemáticos de pequenas montagens. Nessa época eu era fascinado por montagens de “kits” com alarmes sonoros, sirenes para discoteca, compressores de áudio e outros circuitos eletrônicos interessantes. Essa relativa habilidade que ainda tenho para eletrônica me ajudou muito durante toda a minha vida, desde criança, passando pela juventude, no Big Brasa, mais tarde no campo do radioamadorismo e até hoje em dia, com a Informática e estúdios caseiros para gravação. A prática e a iniciativa incentivam o processo de criatividade e vice-versa.
AS SERENATAS EM MESSEJANA
Mais tarde um pouco, na adolescência, após ter aprendido um pouco de violão e usando os conhecimentos de teclado para tocar escaleta, entramos na fase das serenatas, da qual participavam muitos de nossos amigos de Messejana. A escolha do repertório e o ensaio das músicas sempre muito importante. As serenatas eram feitas por nós com toda a tranquilidade, pois, diferentemente de hoje em dia, praticamente não havia perigo. Podíamos transitar até a madrugada e voltar para casa sem problema, visto que não havia a insegurança de hoje em dia.
O roteiro das serenatas passava pelas casas das paqueras, namoradas ou simplesmente de colegas. Na maioria das vezes tocávamos na casa de todas as garotas de nossa turma. Após o ensaio nossa turma se deslocava pelas ruas conversando animadamente e quando se aproximava das casas escolhidas para a serenata havia o momento silencioso da chegada, nem sempre tão silencioso como deveria ser, pelo receio de que o pai da garota acordasse e reclamasse. Depois do início das músicas a espera do sinal, que consistia no acendimento de uma lâmpada qualquer da casa, de preferência externa, para que notássemos que a serenata tinha sido percebida. Tudo nos deixava muito ansiosos. Existia uma magia naquilo que fazíamos..
Em uma das serenatas feitas na residência de uma família tradicional de Messejana, que ficava no lado oeste da lagoa de Messejana, quando estávamos tocando e cantando aquela música que diz assim: “Vento que balança as palhas do coqueiro” um amigo nosso se pendurou nas palhas de um coqueiro anão para fazer uma real sonoplastia. Triste resultado: no meio da música a palha quebrou e ele caiu no chão, fazendo um barulho danado. A cena marcou o fim da serenata. Daí por diante o riso se generalizou e a serenata não teve condições de prosseguir. Fomos embora depressa, antes que houvesse alguma reclamação por parte dos donos da casa. Bons tempos aqueles!
No início desse período de serenatas, quando a maioria da turma estava na faixa entre catorze e dezesseis anos havia pureza no que se refere a bebidas e qualquer outro envolvimento perigoso para a nossa idade. Tenho certeza de que fizemos muito bem. Este exemplo eu procurei transmitir futuramente para meus filhos, no sentido de que um músico que se preza não depende de bebida para bem desempenhar suas habilidades. Ao contrário disso, penso que com a evolução da tecnologia ao longo do tempo, apesar dos benefícios para diversas áreas, a violência que chega todos os dias em nossas casas na atualidade, pela televisão, internet e outras mídias, certamente contribuem para a disseminação de muita coisa que estava fora de nosso alcance naquela época!
COMO SURGIU O APELIDO “BEIRÓ”
Entre os treze e catorze anos eu passei a ser chamado de “Beiró”. Mas poucas pessoas sabem a origem desse apelido, através do qual ficaria também conhecido no meio musical. Eis a história: eu gostava demais de jogar futebol e fizemos um campinho de futebol num terreno perto de nossa casa.
Todos os dias depois que chegava do Colégio Cearense e almoçava, corria para o campo e passava a tarde inteira jogando com os amigos, completamente envolvido. A mamãe, quando tinha que me chamar, à distância sempre gritava: “João Ribeiroooooo”, estendendo a terminação da palavra, de modo que o que se ouvia a distância era apenas o “beiroooooo”.
E assim, por brincadeira, um vizinho nosso chamado “Pinha” começou a me chamar somente de Beiró, como soava o chamamento de minha mãe. Daí o apelido pegou e fiquei conhecido assim.
Em outras situações futuras eu viria a ser chamado por nomes diferentes. Como radioamador, classe A, de prefixo PT7-JSN, meu nome ou QRA era Silva Neto, por soar mais facilmente (QRA significa o nome do operador, segundo o Código “Q”, internacional, utilizado em transmissões via rádio). Futuramente, quando passei a trabalhar na área de Inteligência do Ministério do Trabalho e da Presidência da República me chamavam apenas pelo sobrenome “Silva Neto”, mesmo “nome de guerra” de muitos militares que temos em nossa família.
Em casa simplesmente de João Ribeiro. É este o nome que realmente gosto de ser chamado. Pudera ter conhecido meu avô João Ribeiro da Silva, homem bom e de procedimento exemplar para a família, mas que nos deixou cedo, em Balsas, Maranhão, mas conseguiu deixar lembranças fortíssimas em toda a família, as quais perduram até hoje.
A CRIAÇÃO DO CONJUNTO MUSICAL BIG BRASA
A ideia de formar um conjunto musical surgiu em conversa com entre nossos colegas de Messejana. Após reunir a turma que participava das serenatas, decidimos tentar formar um conjunto. Com a aprovação de meus pais nós começamos os primeiros ensaios. Após esse gradativo aprendizado musical havia muita vontade em realizar aquele projeto.Tínhamos que ser autodidatas. Cada um de nós ia descobrindo nuances de seu instrumento e desenvolvendo as habilidades pouco a pouco. A partir daí foi como uma bola de neve e a vontade e o entusiasmo pela música cresceram rapidamente. O embrião do que seria futuramente o Conjunto Musical Big Brasa foi em Messejana e os primeiros ensaios do grupo foram realizados em nossa casa. A pequena sala onde ensaiávamos tinha as paredes todas pintadas com desenhos coloridos, feitos com tinta a óleo. Nelas desenhávamos de tudo. Guitarras, pistas de corrida e até mesmo o famoso personagem Amigo da Onça, este feito pelo Carló (meu primo e primeiro contrabaixista do Big Brasa (in memoriam). Aquele ambiente era nosso mundo. O violão sempre ficava disponível, em cima de uma cama ou cadeira, para facilitar o seu rápido acesso. Tudo o que era de equipamento nós montávamos empilhados, de modo a formar uma parede de som. Após um gradativo aprendizado havia muita vontade em realizar aquele projeto musical. Sem intenção, nós projetávamos o que iria acontecer em um futuro breve... E finalmente com grupo definido nasceu o Conjunto Big Brasa, fundado oficialmente em abril de 1967, no auge dos Anos 60 e da Jovem Guarda, o maior movimento da Música Brasileira, período marcante no cenário musical de Fortaleza, inesquecível para todos aqueles que o vivenciaram.
Durante toda a sua existência o Conjunto Big Brasa marcou presença significativa em todos os locais onde esteve e permanecerá por muito tempo na lembrança de todos nós. Com um repertório variado, mas sempre com a excelente inspiração dos Beatles, dos Rolling Stones e dos exímios guitarristas Jimi Hendrix, Carlos Santana e Eric Clapton, um sonho foi realizado e a partir de agora vamos relembrar juntos fatos marcantes. Essas diversas ligações musicais, através de ensaios e com o público, certamente influenciaram minha maneira de ser e despertaram algumas características e habilidades que talvez não aflorassem sem elas. Havia muita vontade de todos nós em realizar aquele projeto musical.
Como guitarrista-solo do Big Brasa, nos temas musicais onde havia oportunidade para improvisos, eu sentia algo indescritível, uma sensação de que a própria música me elevava o espírito de forma que não conseguia enxergar ninguém naqueles momentos, parecendo estar em um mundo inteiramente espetacular. A própria música me inebriava por si só, como se estivesse em um paraíso...
MINHAS PREFERÊNCIAS MUSICAIS
Sempre fui bastante eclético quanto à música. Tenho que falar sobre o meu gosto musical (para ouvir ou tocar), e como isso interferiu de forma positiva no repertório de nosso conjunto e no meu, em particular.
Na realidade eu sempre apreciei tudo o que é música boa, independente de gêneros, ritmos ou estilos. Quando criança aprendi a apreciar valsas e tangos, pelos estudos de acordeon. Mais tarde, algumas valsas ao violão, que aprendi ouvindo o inesquecível Dilermando Reis. Alguns clássicos entraram em minha preferência após o estudo com o professor José Mário, que me deu aulas particulares, antes mesmo de eu estar no Conservatório. Escutava em casa os compositores mais conhecidos e famosos do mundo, dos quais tinha a coleção inteira de suas composições. Entre eles Beethoven, Mozart, Johann Bach, Tchaikovsky, Chopin, Schubert e Strauss (deste ultimo toquei muito Contos dos Bosques de Viena e Vozes da Primavera) . Ao mesmo tempo gostava muito das simples, mas excelentes canções da Jovem Guarda e dos Anos 60, em particular dos Beatles e Rolling Stones e no Brasil, as músicas da Rita Lee, do Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis e outros grupo, como 14 Bis e o espetacular Roupa Nova. Mais tarde os melhores merengues, rumbas e salsas foram incorporadas ao meu repertório, com os teclados. Mais outros, como os Carimbós, bem selecionados, fizeram parte de nosso repertório para tocar e animar festas para diferentes públicos e situações. Tudo isso sem esquecer logicamente as seleções de Herbert Alpert e Tijuana Brass, como: Taste of Honey, El Presidente, The Lonely Bull e o tema Assim Falou Zaratustra, que fizemos um arranjo especial que o Conjunto Big Brasa usava para iniciar e encerrar suas apresentações, quando usávamos os naipes de metais.
O PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DO BIG BRASA
A primeira festa de aniversário do Big Brasa foi realizada no dia 28 de abril de 1968, no Balneário Clube de Messejana, com música o dia inteiro: matinal, vesperal e tertúlia, entrando pela noite. O símbolo desse primeiro aniversário foi uma flâmula em forma de uma guitarra vermelha e branca, com os dizeres alusivos à festa, que foi distribuída como lembrança na entrada do clube a todos os participantes.
Na matinal atuaram os conjuntos Os Rataplans, Os Belgas e o Big Brasa. À tarde e noite Os Milionários, a ala feminina do Big Brasa e novamente o Big Brasa. A música de todos conjuntos musicais fizeram a alegria e animaram centenas de pessoas naquele primeiro aniversário do Big Brasa. Pode-se afirmar com certeza que aquela foi uma das maiores e melhores festas do Balneário. Houve participação maciça durante toda a festividade e o clube esteve lotado o dia inteiro.
Com um detalhe: também foi uma das primeiras festas dessa natureza a ser transmitida pelo rádio, com participações ao vivo! A Diretoria do clube nos ofereceu um troféu, em comemoração a nosso primeiro aniversário e pelo reconhecimento de nosso sucesso em Fortaleza. Durante o evento houve uma confraternização geral entre os conjuntos participantes, dentro de um clima de amizade e coleguismo.
MODIFICAÇÕES NA MINHA GUITARRA!
Uma de minhas guitarras foi uma Supersonic, fabricada pela Giannini. No princípio eu a usei por algum tempo sem modificação nenhuma. Essa guitarra possua uma característica importante para um solista. Com ela eu conseguia utilizar a alavanca diversas vezes sem que ela perdesse a afinação (para quem músico fica mais fácil entender). Nos improvisos em rocks e blues isso fundamental. Assim eu podia usar e abusar dos efeitos com a alavanca, que a guitarra suportava muito bem, continuando afinada.
Mas, em razão de minha vontade de inovar e em razão de minha curiosidade e gosto por eletrônica, um dia resolvi melhorar aquela guitarra nas suas formas e em seu som. E ela passou a ter uma sonoridade deferente. Vale lembrar novamente que em Fortaleza não havia quase nada em termos de opções, nos Anos 60 e Jovem Guarda. E se o músico quisesse inovações tinha que se virar por conta própria.
Assim parti para a ação e desmontei minha guitarra completamente. Inclusive seus componentes eletrônicos, como os três captadores de som, sistema de alavanca, molas, cavalete, braço, tudo. Ao final eu olhei para as peças e pensei: será que vai dar certo? Com uma pequena serra “tico-tico”, limas e lixas, cortei um pouco suas formas de modo que ela ficasse parecida com uma guitarra Fender, uma das melhores do mundo. Depois começou a parte dos acabamentos. Apliquei massa como se faz numa pintura de automóvel, no sentido de laqueá-la. A pintura de branco foi aplicada com pistola, com um cuidado todo especial. Ficou muito legal, parecendo até mesmo de fábrica.
Para a mudança da sonoridade instalei um novo conjunto de captadores importados, que tinha adquirido durante uma de minhas viagens à Zona Franca de Manaus. Escolhi um deles em substituição a um dos originais, por ter uma sonoridade bem interessante. Detalhe: andei mexendo um pouquinho nos pequenos circuitos dos controles de graves e agudos, acrescentando ou modificando, na base da experimentação em alguns capacitores (componentes eletrônicos que, dependendo de onde são usados, alteram o som). Enfim encontrei uma sonoridade perfeita para meu uso. Passei então à fase crítica da montagem de todos os componentes, para que ficasse afinando bem e conseguindo todas as oitavas numa boa. Com um encordoamento zerado, não lembro a marca, comecei a testar a nova guitarra. Deu tudo certo! Estava com uma verdadeira Fender de fabricação caseira, que me serviu por muito tempo e que até hoje me traz ótimas recordações.
O sucesso nestas modificações foi pleno! A guitarra Supersonic se transformou em uma guitarra importada, para os meus sentimentos, possibilidades e gosto musical. E de tempos em tempos podia até levar um polimento, tendo em vista que a tinta utilizada era propícia para isso. Ficava sempre novinha e muito legal. O som ficou muito parecido com a da guitarra Fender. E sinceramente eu achava muito melhor, principalmente pelo fato de ter dado certo e ter sido modificada por mim! Melhorava assim mais um diferencial do Big Brasa.
Tive umas quatro ou cinco guitarras durante a existência do Conjunto Big Brasa. Cuidava muito bem delas, como tenho zelo por tudo que possuo até hoje. O músico que se preza tem que tratar muito bem de seus instrumentos e acessórios musicais, conservando-os sempre da melhor maneira possível.
MÚSICO AUTÔNOMO - NEM PENSAVA NO FUTURO...
Contribuições para o INPS, para que? Eu não sabia o valor que teria para o meu futuro. Providência importantíssima a de meu pai, Alberto Ribeiro. Logo que pode me inscreveu como autônomo e começou a recolher as contribuições mensais para o Instituto Nacional de Previdência Social, o INPS. Quando ele me informou sobre o assunto naquele tempo, para falar a verdade não dei a menor importância, para ser sincero. O tempo foi passando e ele pagou todas as contribuições ininterruptamente. Quando completei 18 anos ele chegou para mim, com uma pasta verde na mão, e me disse: “João Ribeiro, estão aqui todas as contribuições pagas integralmente ao INPS, mês a mês (mostrando a pasta). Se você quiser continuar a pagar - e eu acho que vale a pena - continue, agora você já é maior de idade...”. E me entregou a tal pasta, que continha todas as guias de recolhimento das contribuições, sem faltar nada, as quais me serviram de forma espetacular para contar tempo de serviço para minha futura aposentadoria. Valorizo muito até hoje a iniciativa de meu pai e a menciono como exemplo para os músicos mais novos no sentido de seguir o mesmo caminho.
PROFISSIONALISMO - UMA PALAVRA FUNDAMENTAL
Em qualquer trabalho, para que se obtenha êxito e destaque, o profissionalismo tem que existir. Dentro dos princípiosque regem um bom profissional estão diversos aspectos como ética, responsabilidade, habilidade naquilo que executa (conseguida através do estudo e do trabalho), respeito aos companheiros de profissão, coleguismo, disciplina e perseverança nos objetivos.
No caso do músico especificamente, isso tudo deve ser multiplicado por dois, ou seja, o esforço tinha que ser duplicado, para superar aquela imagem de que todo artista era relaxado, desligado, lunático e até mesmo alienado, preconceito que embora tenha diminuído, em algumas ocasiões ainda ocorre, infelizmente.
Por estes e outros fatores formulei uma proposta de trabalho para o exercício de minhas funções profissionais, de modo a tentar, de todas as maneiras possíveis, desfazer essa imagem negativa, que o músico ainda possui para uma parcela da população. Tarefa difícil, pelo preconceito existente com a profissão de músico, mas não impossível, pois consegui fazer a minha parte, de manter a dignidade da profissão e lutar contra o preconceito. E este posicionamento, que acho extremamente importante, após 50 anos de ligação com a música, faço questão de manter.
DECISÃO ACERTADA
Em 1973 decidi casar com a Aliete. A cerimônia foi realizada na Igreja de Fátima, situada na Avenida 13 de Maio, em Fortaleza, pelo então Padre Gerardo (in memoriam), que depois se tornaria Monsenhor Gerardo, o mesmo com quem tinha feito minha primeira Eucaristia, anteriormente quando ainda morava na Rua Mário Mamede. A marcha nupcial foi tocada pela mãe do Luciano Franco, a pedido e por gentileza deste. A recepção foi no Salão Paroquial, que ficava logo atrás, no pátio da Igreja de Fátima, com muita animação, fotografias e encontro de amigos. Tudo foi filmado por uma equipe da TV Ceará. Os colegas, ao final soltaram até fogos dentro da Igreja. Havia um ambiente de descontração, sem frescuras, tudo muito alegre e muito natural. Em seguida fomos para Messejana, onde em nossa casa a recepção continuou até mais tarde.
Uma nota da imprensa anunciava, no dia seguinte: “João Ribeiro Neto, diretor musical do programa Show do Mercantil, passou a integrar o time dos casados, contraindo núpcias com a Sra. Aliete.”
No primeiro sábado após o casamento o Augusto Borges, apresentador do Show do Mercantil, registrou o evento na televisão, que exibiu cenas da filmagem realizada na cerimônia. Enquanto ele falava de meu casamento as câmeras me focalizavam e todo o pessoal da equipe curtia muito. O “Irmão” e o Fred, câmeras, procuravam a todo instante dar detalhes da aliança em minha mão. Diziam eles que era para me entregar para as fãs. A equipe da TV, os colegas e amigos, além dos parentes, compareceram à Igreja em grande número.
O CONSERVATÓRIO DE MÚSICA ALBERTO NEPOMUCENO
Paralelamente à evolução gradativa do Conjunto Big Brasa não descuidei de meu aprendizado musical mais técnico e apurado. Com o intuito de complementar e aprimorar meus estudos parti para o exame vestibular, prestei exame para Licenciatura em Música e consegui êxito, o que para mim foi mais uma vitória, pois a música significava tudo aquilo que eu mais gostava. Naquele período o Conservatório de Música Alberto Nepomuceno tinha sido encampado pela Universidade Estadual do Ceará e teria sua primeira turma de Licenciatura.
Durante quatro anos de Conservatório, aprendi muita teoria musical, harmonia e outras técnicas musicais com experientes mestres, de modo especial com as professoras D’Alva Stela, Repegá Fernanian, Nísia, Afonsina e o excelente professor de violão clássico José Mário. Na realidade eu esperava bem mais do Conservatório, principalmente na parte prática e técnica de instrumentos. Quem me conheceu naquele período sabe que, apesar de ter sido considerado um dos melhores guitarristas do nordeste, dito pelo excelente músico Pepeu Gomes, quando tiramos um som em Recife, sempre tive muita consciência de minhas limitações e que sempre precisaria estudar muita música, ensaiar bastante e exercitar técnicas para a minha evolução profissional.
Para se ter uma ideia houve diversas cadeiras em que os professores me liberavam porque não tinha sentido, diziam eles, visto que eu conhecia a matéria. Quanto à prática do instrumentos também fui dispensado. Na ânsia de aprender mais pressionava muito esses professores, dizendo que eu estava ali para aprender mais e não para ser liberado de aulas. Dentre as cadeiras da Faculdade, fora aquelas do ano básico, que eram comuns aos outros cursos de Humanidades, constavam as específicas, como: História das Artes, Canto Coral, Técnica Vocal, Regência, Som e Ritmo, Prática de Instrumentos (cinco semestres) e Harmonia. Depois de bem ambientado no Conservatório, destaco o seguinte fato sobe uma das etapas: iniciei a cadeira de Harmonia plenamente confiado nos conhecimentos práticos que o Big Brasa tinha me proporcionado e na experiência do dia-a-dia e plenamente confiante de que não precisaria estudar quase nada, mas ledo engano o meu... Quase que entrava pelo cano em Harmonia.
Tive muitas dificuldades com a matéria, principalmente ao fazer encadeamentos harmônicos e pequenos arranjos para orquestra. Se não tivesse estudado para valer teria sido reprovado naquele semestre. Ao final, como Nota de Trabalho Individual (NTI) apresentei uma composição intitulada “Entre pelo Canon” (da qual ainda mantenho a partitura original), tendo conseguido nota dez. Foi uma faculdade muito interessante e no decorrer dos quatro anos de estudo fizemos muitos amigos, dentre eles a excelente musicista Elvira Drummond, que até hoje mantenho bons contatos e amizade. Chegamos a participar ativamente do Coral e fizemos algumas apresentações. Tenho ainda as partituras das músicas que cantávamos. Com a formatura, mais uma etapa tinha sido cumprida, nos proporcionando o nível superior, que futuramente poderia ser essencial para minha carreira em qualquer outra área de atividade.
A MÚSICA CONTINUAVA EM MINHA VIDA!
Fiquei por longo período totalmente envolvido com o meio musical, tendo em vista que durante os quatro anos de Conservatório exercia paralelamente a função de guitarrista-solo do nosso Conjunto Big Brasa, trabalhava na TV Educativa como sonoplasta e na TV Ceará (antiga Rede Tupi da Televisão) como produtor musical e integrante do Conjunto Big Brasa. Além disso realizava funções musicais extras foram por mim desempenhadas, por conta de música ambiente em recepções, aniversários, casamentos e outros eventos, nos quais me apresentei inúmeras vezes como tecladista, com um repertório bem abrangente e selecionado.
Costumo dizer para quem me conheceu recentemente que eu realizei naquela época em Fortaleza praticamente tudo o que um músico poderia desejar, com atuações em múltiplas atividades relacionadas.
A PRESENÇA DO BIG BRASA NA TELEVISÃO CEARENSE
O Conjunto Big Brasa teve uma presença marcante e frequente na Televisão Cearense por quase sete anos, fator que influiu de forma significativa na divulgação do grupo em Fortaleza e de modo especial no interior Cearense. O grupo em seu auge fez muito sucesso em Fortaleza, todo o interior do Estado e em algumas cidades do Maranhão e do Piauí.
Participava diariamente na TV Ceará Canal 2, do programa Studio 2 e aos sábados do Show do Mercantil, que colocava nossas imagens “no ar” e nos tornava muito conhecidos na capital, Fortaleza, e também em todo o interior do Estado do Ceará.
Recebíamos centenas de cartas, dirigidas muitas vezes ao Conjunto Big Brasa, como um grupo, mas também de forma individualizada. As fãs nos mandavam por vezes cartas apaixonadas, algumas até com fotografias. Muitas delas até hoje estão preservadas no acervo do Conjunto Big Brasa para nossos registros.
O PROGRAMA “SHOW DO MERCANTIL”
Como era o Programa Show do Mercantil, do qual o Conjunto Big Brasa participou por quase sete anos? Levado ao ar aos sábados, pela extinta TV Ceará, Canal 2, da Rede Tupi de Televisão, quase sempre apresentava muitos quadros interessantes e de bom conteúdo. Durante anos a apresentação do referido programa, no auditório da TV Ceará, teve como pano de fundo o Conjunto Big Brasa. Assim, qualquer que fosse a atração a nossa imagem estava a aparecer na televisão, fato que contribuiu de forma significativa para nossa maior divulgação no interior do Estado. No decorrer dos programas o Augusto Borges frequentemente se dirigia ao Big Brasa, fazendo um comentário ou simplesmente brincando com algum de nossos componentes. Desse modo nossa imagem se propagou rapidamente e nos tornamos muito conhecidos pelo público em geral.
Sempre havia muita movimentação no programa. Auditório lotado, muita gente mesmo. Nos bastidores do mesmo jeito. Quem conhecia as dependências da TV Ceará, com seus corredores amplos, sabia como chegar ao auditório do programa por dentro. E muitas vezes tudo ficava meio tumultuado, com o pessoal querendo ver os artistas.
Na verdade eu sempre tinha que estar muito atento durante o programa para que tanto a minha participação como produtor musical e a do Conjunto Big Brasa fossem sempre exemplares. Todos os meus amigos de conjunto possuíam o mesmo interesse, senso de responsabilidade e contribuíram significativamente para este sucesso, pelo seu comportamento exemplar nos ensaios e durante os programas.
O PROGRAMA “STUDIO 2”
Programa de muita audiência, no qual o Conjunto Big Brasa se apresentou diariamente por quase três anos. Levado ao ar pela TV Ceará, cada programa abordava temas diversos, baseados em entrevistas. Diversos artistas nacionais, cantores, pessoal de teatro e outras personalidades de destaque participaram do “Studio 2”.
A formação básica do Conjunto Big Brasa naqueles anos era a seguinte: Severino Tavares (bateria), Lucius Maia (contrabaixo e vocal), Adalberto Lima (teclado), Edson Girão (guitarra e vocal) e eu, João Ribeiro (guitarra-solo).
A REPERCUSSÃO DO BIG BRASA NO INTERIOR DO CEARÁ
Se em Fortaleza a televisão divulgava o Conjunto Big Brasa de forma excelente, no interior do Estado a penetração do Big Brasa era intensa, a propaganda era enorme, resultando em muitos contratos para animação de bailes ao longo do ano.
Em Fortaleza existia apenas a TV Ceará, Canal 2. Por isso durante muitos anos a imagem do Conjunto Big Brasa foi única no interior do Ceará em se tratando de grupos musicais, o que nos favoreceu muito. A imagem da TV Ceará chegava até Teresina, no Piauí, através de antenas repetidoras. Daí a nossa grande audiência. Imaginem: na década de 1970 um conjunto musical que aparecia todos os sábados em um programa de audiência total, visto que não havia as redes nacionais de televisão!
Quando o Conjunto Big Brasa chegava a qualquer cidade interiorana o sucesso era garantido, pela enorme propaganda televisiva. Isto sem contar os programas diários que nós participávamos também na TV Ceará. Em muitos municípios fomos recebidos com faixas de boas-vindas na frente dos clubes! A rapaziada local ficava com um ciúme danado por que suas paqueras e namoradas se atiravam para nós, tudo muito natural, por ser novidade. Coisas de tietes, com direitos a muitos autógrafos sempre. Foi nesse esquema que praticamente se desenrolou a bem sucedida etapa televisiva do Conjunto Big Brasa, cujos episódios serão motivo de diversos enfoques nestes registros.
AS FÃS DO CONJUNTO BIG BRASA
Através dos programas de televisão conseguimos alguns fãs-clubes pelo interior do Estado. Quase todos os dias nós recebíamos muitas cartas de nossas fãs, algumas delas com fotografias e até declarações amorosas, com muito carinho e afeto.
Umas eram dirigidas de modo geral ao Conjunto Big Brasa e outras destinadas aos seus músicos, em particular.
Ainda hoje mantenho centenas dessas cartas. Sentia um prazer enorme ao receber cada cartinha daquelas e respondi muitas, pessoalmente. Depois, pela falta de tempo, contratamos uma amiga que se encarregou de nossa correspondência.
Para atender às minhas fãs, tirei uma fotografia ao lado do caminhão de transmissões externas do Canal 2 e distribuí quinhentas cópias para o interior do Estado. Hoje em dia ainda mantenho estas cartas bem guardadas, pois fazem parte de nossa memória.
O ENCERRAMENTO DO CONJUNTO BIG BRASA
Este resumo da música em minha vida destaca apenas os fatos e as ligações mais importantes desde minha infância até a adolescência, com a formação do Conjunto Big Brasa e sua rápida evolução no meio musical cearense, que nos trouxe muitas alegrias durante toda a sua existência. As lembranças continuam sendo um espetáculo à parte em nossa memória. Passamos por tempos de uma felicidade muito intensa, gratificante e verdadeiramente inesquecível para quem vivenciou o período.
Com onze anos de sucesso e de realizações plenas de minha parte e de todos os que o integraram, em 1978 ocorreu o encerramento das atividades do Conjunto Big Brasa. Como muitos músicos tinham partido para a formação profissional em outras áreas, houve dificuldade para substituí-los de modo a atender nossa filosofia. E desse modo ocorreu realmente o fim de um grupo de sucesso, o qual ainda hoje nos trás recordações muito gratas. Mas a música continuou sempre em meu espírito!
Mesmo depois do Conjunto Big Brasa ter encerrado suas atividades passei ainda três anos efetivamente ligado à musica, período em que exerci funções autônomas e estive como tecladista junto ao Conjunto Os Faraós. Mas a essência musical permaneceu e sempre que podia tocava um pouco de violão com amigos, nos encontros, aniversários e confraternizações. Logo a seguir eu teria uma mudança radical em minha vida profissional.
UMA MUDANÇA RADICAL
Em 1979, após aprovado em concurso público federal, passei a trabalhar na Área de Inteligência do governo, também com bastante responsabilidade, dedicação e empenho, pela importância do trabalho, assumi o cargo de Analista de Informações (Oficial de Inteligência, como o cargo é atualmente denominado na Agência Brasileira de Inteligência). Com o impacto do aprendizado de novas atividades e atribuições, a falta da música foi marcante, mas compensada certamente pela oportunidade única de prestar um serviço importante para a nação, considerada pelo governo como relevante serviço à pátria.
MEU GRADUAL RETORNO À MÚSICA
Depois de alguns anos, alertado por uma amiga, que inicialmente afirmou que a música era um dom divino e eu seria penalizado por não aproveitá-lo, comecei a pensar no assunto e cheguei à conclusão que teria que retornar à música, mesmo sem novas aspirações profissionais.
E assim iniciei um gradual retorno à música, que me fez montar uma pequena sala com teclados, guitarras, violões, pedais, microfones, amplificadores, caixas de som, estantes e outros acessórios para gravações e registros musicais. Um estúdio caseiro, com material suficiente para tirar um som e gravar alguns temas musicais por mim compostos ao longo dos tempos.
Primeiramente formamos um pequeno grupo musical, sem grandes pretensões e sem compromissos profissionais, com três grandes amigos, Roberto Faria da Silva, sua esposa Rinah Melo e a nossa amiga Laury. Usava a princípio um excelente teclado Roland, com um sintetizador Yamaha, modelo DX7. Começamos a ensaiar e aprontamos um repertório de alta qualidade. Chegamos a nos apresentar em diversas oportunidades em encontros de amigos e a realizar algumas funções remuneradas. Evoluímos tanto no instrumental, no repertório e tecnicamente. O pessoal ficava cada vez mais dedicado e com seus dons aprendia rapidamente os macetes profissionais. E a vontade de tocar crescia!
Em outra fase fui convidado pelo amigo Cesar Barreto a participar do Projeto Luiz Assunção, que consistia em apresentações públicas nas principais praças de Fortaleza, sob patrocínio da Prefeitura Municipal. Foi uma experiência cultural rica, pelo contato com o público e repertório mais popular. Conheci outros músicos de estilos diferentes, todos de excelente qualidade. Aumentava assim o meu retorno à música, gradativamente. Com o Cesar Barreto estivemos também fazendo um programa de televisão na TV Educativa e realizamos alguns shows pelo interior do Ceará, como em Crateús, Limoeiro do Norte e em Campina Grande, na Paraíba, dentre outros. Posteriormente, também a convite do Cesar, tive a oportunidade de participar como tecladista e guitarrista, das gravações de dois discos por ele produzidos, no Studio ProAudio, do amigo Marcílio Mendonça.
Mais à frente tive um reencontro com o Airton França (ex-Big Brasa), depois de alguns anos sem quase nos encontrar. Ele ficou muito entusiasmado com a ideia de começarmos novamente a tocar, por diversão e combinamos fazer uma dupla. Primeiramente o Airton comprou um piston novinho em folha, com surdina e tudo. Recuperou sua qualidade musical depressa e logo tocava as antigas e bonitas músicas do Herbert Albert.
Em várias oportunidades, como músico free-lancer estive em diversos shows com músicos e amigos em Campina Grande, na Paraíba e Limoeiro do Norte, Baturité, Guaramiranga e Pacoti, no Ceará.
A COMEMORAÇÃO “20 ANOS DE EMBALO”
Para comemorar vinte anos de música promovemos uma festa denominada “20 Anos de Embalo”, com a participação de músicos do Big Brasa e do conjunto “Os Faraós” e diversos artistas de Fortaleza. O objetivo principal da realização desse evento, para mim, foi o de reencontrar amigos da época, músicos ou não, além de registrar tudo aquilo em áudio e vídeo, pelas facilidades que temos hoje para, de certo modo suprir a ausência de gravações em vídeo dos tempos mais antigos. Havia um entusiasmo e, ao mesmo tempo, um sentimento de saudade por parte dos que participaram efetivamente daquela vivência musical. Por outro lado, grande expectativa e animação dos mais jovens, nossos filhos e seus colegas, que ansiosamente desejavam ver seus pais atuando no palco de novo.
A grande festa, amplamente divulgada através da imprensa local, foi realizada no Balneário Clube de Messejana, no dia 09 de julho de 1988, e obteve pleno sucesso, tanto assim que foi seguida por mais outra, semelhante, poucos meses depois. A iniciativa dessa promoção foi muito bem acolhida por todos.
“Os embalos da década de 60”
O jornal “O Povo”, em edição de 09 de julho de 1988, na coluna Saudosismo, publicou uma extensa matéria sobre o evento, sob o título “Os Embalos da década de 60”. A referida nota afirmava:
“No final dos anos sessenta dois grupos musicais eletrizavam a juventude cearense com suas participações nas festas que animavam nos mais diversos locais. Eram Os Faraós e o Big Brasa., que em suas exibições, além dos sucessos da época, tinham como base um repertório pautado nas composições dos Renato e seus Blue Caps, The Beatles e Rolling Stones. Após duas décadas dessa efervescência alguns dos ex-integrantes dos dois grupos voltam a tocar e cantar juntos, na perspectiva de relembrar momentos dançantes passados e atuais. A primeira de uma série que se intitula “Vinte Anos de Embalo” vai acontecer hoje”...
Nesta reportagem, seguindo os comentários sobre diversos aspectos musicais daquele período, há um trecho da entrevista concedida por mim ao repórter, na qual afirmei:
“ Foi uma experiência bem vivida. Tocávamos com todos os artistas que se exibiam no programa do Augusto Borges. Eu fazia a seleção dos calouros e por meu crivo passaram entre outros Mardonio, Maria Zenáide e as irmãs Lena e Leda. Esta última se tornaria depois a “MissLene”. Acompanhamos muitas vezes o Jorge Mello, o Belchior e o Ednardo, com quem chegamos até a defender uma bela canção, Beira-Mar, em um festival em Recife”.
Mais adiante, na mesma nota, procurei traçar um paralelo com as músicas e grupos atuais fazendo a seguinte colocação: “Hoje em dia falta melodia nas músicas. São meio brutas, onde a harmonia não é lapidada adequadamente. Isso não existia nas músicas do Renato e seus Blue Caps. As composições dos Beatles nem se fala, pois eles usavam mais romantismo e trabalhavam bem melhor os arranjos”. Ao final, a publicação informava que os ingressos para os “Vinte Anos de Embalo” eram limitados e que do show participariam várias pessoas que viveram intensamente nos palcos a época da Jovem Guarda. Entre eles Edson Girão (voz e guitarra), Luciano Franco (contrabaixo) e João Ribeiro - Beiró (teclados), como os três ex-membros do Big Brasa; Luisinho (guitarra e voz), Sebastião (vocal e contrabaixo), Vicente (guitarra e vocal) e Antônio (bateria) pelos Faraós. E ainda a presença de Roberto Carioca (cantor), Rinah e Laury (cantoras).
A promoção foi um sucesso e obteve ampla repercussão em Fortaleza. Todos os seus objetivos foram plenamente alcançados, dentre eles o principal, ou seja, o de realizar uma confraternização com todos aqueles que participaram daqueles bons tempos.
Outra matéria sobre o evento foi escrita pelo jornalista e músico Luiz Antônio Alencar e publicada no jornal Tribuna do Ceará, edição de 08 de julho de 1988. "It was twenty years ago today, Sargent Peppers taught the bend to play." (Foi há vinte anos atrás que Sargento Pimenta ensinou sua banda a tocar). Com essa frase os Beatles lançavam em abril de 1967, o seu sétimo e mais controvertido LP na Inglaterra, o Sargent Peppers lonely Hearts Club Band, com toda uma revolução sonora e poética.
Em Messejana no mesmo mês surgia, de um grupo de jovens apaixonados por toda e exuberante enxurrada de inovações da época, o Conjunto Musical Big Brasa, bem inscrito dentro dos padrões vigentes da jovem guarda. Composto por João Ribeiro, Carlomagno (Carló), João Dummar Filho, Marcos Oriá e Severino Tavares, usando equipamentos feitos aqui mesmo pela banda “Os Rataplans”, que com caixinhas de som primitivas de seis watts de potência, resolveram inaugurar no Ceará a tal estrada do rock, hoje tão difundida em outros grupos.
Tendo como prefixo a música And I Love Her, dos Beatles, o Big Brasa logo passou a introduzir inovações no cenário musical local, que eram privilégios dos grandes centros. Em um curioso paralelismo, as bandas pioneiras e músicos de Heavy Metal, como Rolling Stones, Jimmy Hendrix Experience, Cream, com o Eric Clapton, introduziam efeitos como a distorção, obrigatória em toda banda metaleira, o wah-wah, e outros recursos, e o Big Brasa não deixava por menos: os adotava em seus bailes para consternação dos mais velhos, com ouvidos “nelsongonçalveanos”, e para a excitação da moçada”.
E continuava, referindo-se a um “Coroa muito doido” (meu pai, Alberto Ribeiro), dizendo:
“... O mais interessante era que o mentor de toda a história era um senhor de quase cinquenta anos, maçom, de nome Alberto Ribeiro da Silva, que além de dar uma força e orientação para a moçada, mandando “sentar o pau no rock”, ainda se deslumbrava com os sucessos dos Beatles, como Help, Hello Good Bye e Boys, ou então com Satisfaction, Jumpin Jack Flash e Under My Thumb, dos Rolling Stones, essa última sua predileta.
Com um vigor de fazer inveja a muito gatão de hoje em dia, ele se entusiasmava quando o rock fervia no palco, incentivando-o como um regente. Roqueiro de cabeça feita, exigia que a turma abrisse o gás, o que a garotada cumpria com muito gosto. Pode-se dizer que este avançado senhor, eternamente jovem, foi uma das peças incentivadoras do rock aqui no Ceará, quando ainda era uma coisa muito “revolucionária”.
“E pasmem - ainda chamava os seus amigos e companheiros de geração que torciam o nariz ante a barulheira de seus pupilos de "caretas e quadrados" e os espinafrava com uma irreverência de fazer inveja ao próprio John Lennon. Nem é preciso dizer que o Big Brasa inteiro adorava o Mestre Alberto, como ele era carinhosamente chamado. Em 1968, no auge do movimento hippie, o Big Brasa aumentou sua tonelagem sonora com equipamentos avançadíssimos para a época, e músicos como o Peninha, Lucius Maia, Adalberto Pereira, Edson Girão, Luciano Franco, Edir, Joãozinho Lennon, Lurdinha, passarem a compor o dinâmico plantel do Big Brasa, que inclusive acompanhou e fez arranjos para os primeiros shows do cantor e compositor Ednardo, bem como inspirou, em primeira instância, o guitarrista Manassés, um dos melhores do mundo, mas que na época, assistia aos solos do João Ribeiro (Beiró) no Maranguape Clube com um brilho de admiração no olhar. Após quase sete anos ligado à televisão cearense, especificamente nos programas Studio 2 e Show do Mercantil, da extinta TV Ceará, o Big Brasa debandou em 1977”.
O REENCONTRO DA SAUDADE
Em 1997, por iniciativa do amigo Luisinho Magalhães, dos Faraós, nosso pessoal se reuniu para tocar juntos e matar as saudades daqueles tempos maravilhosos e inesquecíveis. Tendo como anfitrião o Sebastião Magalhães, músicos, familiares, amigos e apreciadores, passados trinta anos do início desse maravilhoso período renovaram as agradáveis lembranças de tudo que ocorreu em nossa vida musical.
Na oportunidade tocamos bastante, até altas horas da madrugada. O pessoal fez um churrasco, em paralelo e foi agradável, super-divertido. Muitas pessoas fizeram registros em vídeo dos colegas e dos músicos em plena ação e nossas famílias reuniram-se para rememorar tudo novamente.
LIVRO “O BIG BRASA E MINHA VIDA MUSICAL”
Tudo foi muito rápido e estamos em 2017! Rapidamente se passaram dezoito anos da festa do lançamento de meu livro “O Big Brasa e minha vida musical”, feito em 1999. Recentemente, ao refletir sobre os meus 50 anos de ligação à música e ao Conjunto Big Brasa revi fotografias e filmagens, mas senti falta de muitos detalhes a respeito da festa de lançamento do livro, que agora compartilho com você.
DETALHES DA FESTA DE LANÇAMENTO
Algumas impressões sobre como foi realizada a festa de lançamento de meu livro foram descritas em meu próprio blog, o Blog do João Ribeiro. Também fizemos registros parciais nas páginas do Conjunto Big Brasa na internet. Algumas filmagens dos conjuntos musicais que se apresentaram foram publicadas no Canal Youtube do Big Brasa e no sítio do Instituto Portal Messejana, como destaque musical de Messejana. E no acervo do Conjunto Big Brasa existe uma grande quantidade de fotografias sobre aquela noite que considerei muito gratificante para mim e certamente para todos aqueles da grande família Big Brasa e todas as pessoas que vivenciaram conosco o inesquecível período dos Anos 60 e da Jovem Guarda. Mas considero muitos fatos e detalhes interessantes para a lembrança daqueles que participaram conosco de tudo e são os que eu descrevo a seguir.
Com o livro pronto encaminhei tudo para a gráfica para uma edição de apenas mil e quinhentos exemplares. Em seguida procurei um local para o lançamento do livro que fosse atraente, agradável e principalmente que nos trouxesse boas lembranças. Como o Balneário Clube de Messejana não mais existia em 1999, a referência que era o antigo Restaurante Tremendão, também às margens da Lagoa de Messejana. Quem o gerenciava na época cedeu todas as instalações, mas não acreditava muito nas centenas de pessoas que eu disse que compareceriam ao evento. Em face da nossa movimentação que ele acompanhava, da divulgação de notas na imprensa ressaltando a importância daquela festa, ele se pôs rapidamente a trabalhar para bem aproveitar a ocasião. Importante ressaltar que não houve da nossa parte nenhum objetivo financeiro e sim, o interesse de todos em assinalar a data, encontrar os amigos e amigas, familiares e fãs do Conjunto Big Brasa e demais grupos no evento. A motivação era única!
PREPARAÇÃO PARA O GRANDE DIA!
Como sempre fazia nos tempos do Big Brasa estive na parte da tarde para dar uma olhada nos equipamentos, no palco, no teclado que também iria usar (um DX7) e também nas mesas de som e de iluminação. Lembro ainda que o nosso amigo Albano, também músico, contribuiu demais para a iluminação do show! Enquanto nós conferíamos aqueles detalhes notava que os funcionários do Tremendão estavam muito envolvidos no sentido de tornar a casa mais bonita e agradável, pois seus gerentes tinham percebido a dimensão da festa e se esforçavam para decorar o ambiente com motivos da Jovem Guarda e Anos 60. E assim o ambiente ficava cada vez melhor.
Quando retornei ao Tremendão para o início da festa, a animação e o entusiasmo com os reencontros de todas as pessoas que já estavam chegando eram grandes. Naquela oportunidade destaco a especial participação do Cesar Barreto que realizou várias entrevistas para reportagens de televisão e filmagens do evento com uma equipe contratada. Dentre as inúmeras entrevistas, todas gravadas em vídeo, uma deles em especial ficou marcada em minha lembrança. Foi quando ele conversou com o meu pai Alberto Ribeiro, sobre a ideia do Conjunto Big Brasa e o lançamento daquele livro, oportunidade que o papai demonstrou muita felicidade por termos conseguido realizar nossos sonhos. Em seguida a palavra do nosso primo e amigo Carló, que falou também sobre a participação dele no Conjunto Big Brasa, do qual ele foi um dos fundadores, ao mesmo tempo em que demonstrava claramente a felicidade de estarmos juntos novamente naquele belo encontro, na presença de nossos pais, familiares e amigos.
- Os autógrafos
Naquele instante, com muita gente chegando fui chamado para autografar os livros, recepcionando os nossos convidados na entrada do Tremendão em uma mesa preparada com vários exemplares do livro e uns arranjos alusivos aos Anos 60, além da presença de duas garotas, a Sandra e a Rosiane, as quais vestidas com blusas que estampavam a capa do livro recebiam as pessoas e depois as conduziam até as mesas.
Fiquei muito emocionado ao autografar dezenas de livros para muitas pessoas, como os amigos e amigas do Conjunto Big Brasa, convidados, familiares, frequentadores de nossas festas nos Anos 60, várias pessoas de Messejana e muitas outras que nem sequer conhecia. Nestes instantes dos autógrafos, ao mesmo tempo estava sendo filmado por um cinegrafista da TV Educativa, que também tinha participado do Big Brasa como um de nossos auxiliares, o Sérgio Alves.
- A abertura da festa
No início houve uma apresentação do evento, feita pelo amigo e talentoso músico Cesar Barreto. Na oportunidade foram chamados ao palco todos os ex-integrantes que fizeram parte do Conjunto Big Brasa em suas diferentes fases. Antes do início da apresentação, com todos em palco, aproveitei para fazer um agradecimento a Deus por tudo que a música tinha proporcionado, agradeci também a meus pais, a meus amigos e a todos os presentes que estavam ali para completar o contagiante clima de alegria e satisfação existente.
- A apresentação do Conjunto Big Brasa
O Conjunto Big Brasa se apresentou com a participação de um grande número de ex-integrantes e também de fundadores do grupo. Dentre eles o saudoso Carlomagno Lima (Carló), meu primo, amigo e contrabaixista (in memoriam); Edson Girão (guitarrista e vocalista); os pistonistas Airton França e Mairton Vitor (in memoriam), os bateristas Severino Tavares e Edir Bessa; Cesar Barreto (vocalista e guitarrista), João Dummar (guitarrista e vocalista); Cláudio Pereira e Lucius Maia (contrabaixistas) e Luciano Franco (tecladista).
Como roteiro musical nós incluímos as principais músicas que fizeram parte do repertório do Big Brasa, como sucessos da Jovem Guarda, Beatles, Rolling Stones e as clássicas orquestradas do Herbert Albert, com o nosso naipe de metais. E com isso empolgamos todo aquele pessoal em um verdadeiro clima de embalos dos Anos 60.
- Os Rataplans
Na sequencia tivemos uma representação do conjunto musical Os Rataplans no Conjunto Big Brasa através de nosso amigo Cesar Barreto, o qual muito contribuiu para abrilhantar aqueles momentos fazendo uma bela apresentação dos grupos, realizando entrevistas para a televisão e para a equipe que nós contratamos para realizar as filmagens daqueles importantes e significativos momentos registrando tudo para um compartilhamento futuro.
- Os Faraós
Os Faraós em sua formação original, com os irmãos Luisinho Magalhães (guitarrista e vocalista), Antonio Magalhães (baterista); Vicente (guitarrista e vocalista) e Sebastião Magalhães (contrabaixista) fizeram uma excelente apresentação naquela noite! Relembravam assim os festivais em Fortaleza, com seu instrumental e vocal inconfundíveis. O repertório com o melhor dos Beatles, Rolling Stones e demais grupos pesados do período. Naquela oportunidade, ao teclado pude também curtir novamente o período em que tocamos juntos, com todas as inovações acrescidas pelas partes.
- A Banda “Túnel do Tempo”
Na sequencia a banda Túnel do Tempo, liderada por Walter Faheina (guitarrista e vocalista) empolgou a todos, apresentando um repertório muito selecionado com os principais sucessos da Jovem Guarda.
- “Remember Beatles”
Importante destacar ainda, na parte final, a presença do grupo Remember Beatles, com os excelentes músicos Silvio Star, Fábio Rodrigues e Ricardo, todos com apresentação marcante, apresentando um repertório composto pelos maiores sucessos dos Beatles. Completamente integrados ao ambiente musical, eles todos compartilharam conosco as emoções de uma noite alegre e vibrante, que reuniu bons músicos de diferentes épocas. Todos receberam exemplares do livro autografados e nós fotografamos juntos!
Então assim, com o Tremendão superlotado, enquanto os conjuntos se sucediam no palco empolgando a todos, os presentes se divertiram a valer, cada um a seu modo. Muitos conversavam animadamente com antigos companheiros, dançavam ou simplesmente observavam e curtiam uma seleção de músicas especiais para todos nós. Fiquei muito feliz naquela oportunidade, radiante mesmo. Tudo consistiu para mim um verdadeiro prêmio pelo objetivo realizado e os sonhos todos transformados em um livro sobre este período inesquecível! Nunca tinha imaginado uma recepção tão boa, onde tudo saiu conforme o planejamento, com tantas pessoas a prestigiar aquele evento, no qual nós sentíamos um clima de descontração, magia no ar e muita animação. Foi incrível!
RECONHECIMENTO APÓS 50 ANOS
Para minha grata surpresa, apesar de meu afastamento temporário da música, incontáveis vezes eu fui reconhecido pela participação no Conjunto Big Brasa! E o fato persiste até hoje. Quantas e quantas pessoas que encontram comigo em diversos locais (shoppings, mercantis, praias, serras etc.) perguntam coisas do tipo: “Você é aquele que tocava no Big Brasa?”, ou então “Você é o Beiró, do Big Brasa?” e coisas assim.
Há alguns anos estava na fila em uma agência bancária para receber um pagamento, não lembro mais do que. Muito bem, quando chegou a minha vez de atendimento o caixa do Banco olhou para mim e perguntou: “você é o guitarrista do Big Brasa, o Beiró?” E eu confirmei que era. Ele então muito empolgado “esqueceu” até de perguntar o que eu iria fazer e me disse: “rapaz, eu ainda tenho gravado um solo (a gravação de um improviso!) que você fez em um show do Ednardo, no Teatro José de Alencar”... E se quiser pode passar lá em casa que eu copio para você! Isso foi depois de alguns anos que fizemos uma série de shows com o Ednardo, do Pessoal do Ceará, pelo Nordeste. Em outras ocasiões as pessoas quando me reconhecem dizem “você não mudou nada!”. Lógico que os traços fisionômicos podem não terem mudado muito, mas é que essas pessoas, que foram fãs do Conjunto Big Brasa, nos enxergam também com o coração. E eu as trato com o carinho de sempre, forneço os endereços do Big Brasa no Facebook e outros locais da internet onde falamos sobre nossa vida musical.
Certamente a força de televisão contribuiu muito para que isso ainda ocorra. Tenho certeza de que nossas imagens todos os dias expostas para todo o Ceará (o sinal da TV Ceará alcançava até Teresina, Piauí, através de antenas repetidoras). Por muito tempo, logicamente as centenas de funções musicais executadas, ficaram gravadas na memória de muitas pessoas.
MAIS LEMBRANÇAS
A participação de muitas pessoas nos espaços do Conjunto Big Brasa na internet, produziram mais lembranças sobre este período musical inesquecível. Os detalhes, as opiniões, comentários de amigos me entusiasmaram a escrever mais um pouco sobre o assunto, no sentido de completar eventuais lacunas. Surgiu a necessidade escrever esta edição separadamente, ou seja, de separar a música em minha vida, da existência do Conjunto Big Brasa. Confesso que foi muito difícil e espero ter conseguido.
PRESENÇA NAS REDES SOCIAIS!
Após o lançamento da primeira edição do livro O Big Brasa e Minha Vida Musical e com os avanços tecnológicos o Conjunto Big Brasa começou a se fazer mais presente contínua e gradativamente na Internet, aproveitando os vários espaços existentes. Pouco a pouco foram criados blogs diversos sobre o Conjunto Big Brasa (inclusive o meu, - “Blog do João Ribeiro”, em 2013), um canal no Youtube, no Facebook, entre outros. Assim, os vídeos da festa de lançamento do livro O Big Brasa e Minha Vida Musical puderam ser publicados no Canal Youtube do Conjunto Big Brasa e colocados em destaques no sítio do Instituto Portal Messejana.
Em 2012 o Big Brasa passou a figurar também na Wikipédia (enciclopédia livre), com dados referentes ao Conjunto, Jovem Guarda e Anos 60 no Ceará (uma relação completa com os endereços eletrônicos do grupo está nesta edição).
Todas as publicações na internet têm recebido inúmeros acessos de muitos estados do Brasil e mais esporadicamente outros países. Pessoas que moraram em Fortaleza e hoje estão no exterior, quando pesquisam no Google se sentem felizes ao encontrar uma série de citações sobre o Conjunto Big Brasa, Messejana, Fortaleza. Faça você mesmo uma rápida pesquisa no Google por “Big Brasa” e comprove os resultados. São inúmeras as ocorrências por ele catalogadas!
UM GRUPO NO FACEBOOK
Ainda em 2012, portanto 13 anos após o lançamento do livro “O Big Brasa e Minha Vida Musical”, idealizei criar um grupo, no Facebook, com a abrangência do Conjunto Big Brasa, Os Faraós e Os Rataplans, nos Anos 60/70. Foi um sucesso e de imediato a aceitação deste grupo foi muito boa. Centenas de pessoas de todos os lugares e que eu jamais imaginaria se inscreveram logo nos primeiros dias e passaram a compartilhar nossas postagens. Na sequencia, em 2016, animado com a perspectiva, ampliamos a participação do Conjunto Big Brasa através de uma página especial, com os principais artigos a respeito do grupo e por último foi construído um sítio especial para o Conjunto Big Brasa.
https://www.conjuntobigbrasa.com/
ENCONTROS MUSICAIS COM AMIGOS
Passados 50 anos de ligações com a música é importante registrar que as amizades com várias pessoas que convivemos na época permanecem firmes e consolidadas. Parte disso se deve à facilidade das redes sociais que possibilita nossos encontros frequentes, independente da distância. Destes posso mencionar a nossa amiga de Faculdade e excelente musicista Elvira Drummond, o amigo Marcílio Mendonça, músico e também um grande nome musical no que se refere a estúdio de som em Fortaleza (para mim o melhor produtor musical), Agostinho Elias, César Barreto, Antonio Carlos Magalhães, Edson Girão, Manassés de Souza (ex-guitarrista do grupo Os Dissonantes, de Maranguape, hoje músico de categoria internacional, o também guitarrista Zé Antônio, o amigo Kildare Rios, contrabaixista e vocalista da banda Rubber Soul (cover dos Beatles) e muitos outros amigos e músicos que participam de nossos grupos e compartilham conosco lembranças e afinidades idênticas. Sempre que é possível nos encontramos para trocar ideias e rememorar o período musical que participamos. É como se o tempo não tivesse passado!
UM ESTÚDIO MUSICAL
Na atualidade existe uma enorme quantidade de recursos musicais trazidos por este fascinante mundo tecnológico e musical, com seus inúmeros programas de computador direcionados especialmente para a música. Em razão desses avanços atualizamos nossos equipamentos para gravar alguns temas, tocar minhas composições nos teclados, improvisar um pouco com a guitarra e acessórios, com informações técnicas de pessoal especializado compramos alguns equipamentos para a montagem de um simples estúdio.
Teclados de geração bem moderna, um computador ágil, mesa de áudio de boa qualidade e demais acessórios. É assim que estamos atualmente. Iniciei a gravação de temas para colocá-los como trilhas sonoras em minhas gravações de vídeo. A vontade e o gosto pela música permanecem em meu espírito e o sentimento de registrar estes detalhes é muito bom para mim.
DEDICATÓRIAS
Dedico todas estas lembranças à minha família, em especial aos meus saudosos pais Alberto Ribeiro e minha mãe Zisile (in memoriam) por tudo o que fizeram por mim e pelo Conjunto Big Brasa; aos meus filhos Alberto Neto e Cristiane e queridos netos João Pedro e Isabela. E de modo especial ofereço estes registros para minha mulher Aliete Lima e Silva, que comigo partilhou grande parte de minha vida musical. E aos meus primos que hoje se encontram mais distantes fisicamente, mas que também partilharam de nossa vida de forma intensa.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Em primeiro lugar tenho que agradecer a Deus e a nossos espíritos guias por terem nos protegido dos perigos que nos rondaram ao longo de nossa vida nestes últimos 50 anos. Renovo especiais agradecimentos a meu pai, Alberto Ribeiro da Silva, o Mestre Alberto, e à minha mãe, Francisca Amasile Pereira da Silva, Dona Zisile, pelo incentivo, ajuda constante e incondicional em toda a minha vida desde criança e durante meu forte envolvimento com a Música.
Eles sempre estarão presentes em minha vida e eternamente em minhas lembranças. Especial menção para minha saudosa mãe Zisile, que além do gosto pela música, por tudo o que fez por todos nós, da “Família Big Brasa”. Assim temos hoje recordações dos bons tempos do Big Brasa através de notas publicadas na imprensa em variados períodos e fotografias que ela guardava tudo com um carinho especial! Com muito gosto ela recortava as notas de imprensa, as fotos e as guardava cuidadosamente para montar seus álbuns. Essas recordações possuem um valor inestimável para todos aqueles que efetivamente participaram dos Anos 60, da Jovem Guarda e de modo especial do Big Brasa.
O fundamental é que essas providências proporcionaram a manutenção do acervo do Big Brasa por mim e hoje podemos compartilhar com familiares, com o público em geral, amigos, fãs do Big Brasa e todos aqueles que vivenciaram aquela época maravilhosa. E comemorar nossos 50 anos de música! Lembro saudosamente de alguns momentos em que minha mãe me mostrava uma publicação, algum recorte de jornal, dizendo, com muita felicidade: “Olhe João Ribeiro, saiu esta nota hoje”... E as guardava nos álbuns. De modo particular agradeço à minha mulher Aliete, que muito me incentivou, compreendeu as dificuldades e muito me auxiliou no decorrer de meu exercício profissional como músico.
Agradeço ainda a todos aqueles que conosco estiveram nestes anos de intensa felicidade, como nossos familiares, músicos do Big Brasa e de conjuntos musicais que conosco participaram desse período, professores e amigos do Conservatório de Música, das emissoras de televisão que trabalhei, parentes, amigos e fãs. Assim atravessamos uma fase espetacular de minha existência, desde a infância e com meus 50 Anos de ligação à Música através do Conjunto Big Brasa. Espero que estas lembranças sejam também valiosas para todos e que possamos nos encontrar mais vezes nos palcos da vida!
João Ribeiro da Silva Neto
(Beiró) |