Por que a alimentação é importante para os rins?

 

 

Não é segredo para ninguém que os rins são órgãos essenciais para a saúde. Porém, diferente do que se pensa, eles são responsáveis não só por eliminar as impurezas e manter no corpo substâncias importantes para o funcionamento, mas também pela produção de hormônios e manutenção do equilíbrio ácido-básico e osteometabólico, assim como do equilíbrio entre líquidos e eletrólitos.

 

Cada um dos nossos rins possui cerca de um milhão de glomérulos, estruturas que atuam como pequenos filtros pelos quais passa o sangue. Eles são bastante seletivos e, quando estão funcionando normalmente, eliminam as impurezas e toxinas do organismo através da urina, que é produzida por eles.

 

Mas e quando há algo de errado? "Quando não funcionam bem [os rins], vários problemas ocorrem, como, por exemplo, hipertensão arterial, anemia, doenças ósseas, entre outras. Nas fases mais avançadas, o seu mau funcionamento pode levar à morte. Quando se chega ao estágio terminal da doença renal crônica (insuficiência renal), só se pode preservar a vida com a realização de diálise ou de transplante renal", explica a médica nefrologista Gianna Mastroianni Kirsztajn.

 

Para que os rins estejam sempre funcionando bem, é extremamente importante que seja feita uma dieta adequada a essa necessidade. Mas o que deve ser priorizado? Confira a entrevista completa com a médica, que contou também com a colaboração da nutricionista Alessandra Calábria Baxmann.

 

Por que uma dieta adequada é tão importante para o bom funcionamento dos nossos rins?

 

Uma dieta adequada é fundamental para a prevenção de doenças que causam dano aos rins, como hipertensão, diabetes, obesidade, entre outras. A prevalência da obesidade vem aumentando no Brasil e no mundo. Nas últimas décadas, inúmeros estudos têm demonstrado que o sobrepeso e a obesidade representam fatores de risco para a formação de cálculos renais e para o desenvolvimento de diabetes e de hipertensão. As duas últimas são consideradas as duas principais causas do desenvolvimento da doença renal crônica (DRC). Uma dieta balanceada, com consumo adequado de energia, proteínas, leites e derivados pobres em gordura, grande variedade de frutas e verduras, baixo consumo de sal e elevado consumo de líquidos, pode prevenir o risco de desenvolvimento de todas essas doenças. A dieta também tem papel fundamental na assistência a pacientes que já desenvolveram DRC. Os objetivos do manejo nutricional em pacientes com DRC são promover um bom estado nutricional, reduzir a sintomatologia urêmica e retardar a progressão da doença.

 

Com relação à hidratação: como ela pode influenciar no bom funcionamento do sistema renal? Qual é a recomendação diária?

 

Devido ao efeito diluidor da urina, com consequente diminuição das razões de saturação de seus componentes, a elevada ingestão de líquidos é uma das medidas mais importantes para a prevenção de cálculos renais (pedra nos rins). Por outro lado, o baixo volume urinário é considerado um fator de risco independente para a formação de cálculos. Acredita-se que o volume ideal de líquidos ingeridos ao longo do dia deva ser o suficiente para gerar 2 litros de urina (cerca de 30ml/kg/dia).

 

Uma maneira saudável de elevar a ingestão de líquidos poderia ser através do consumo de sucos naturais. Além de aumentar o volume urinário, alguns sucos (laranja, limão, tangerina, por exemplo) são fontes naturais de citrato, que é um potente inibidor da formação de cálculos de oxalato de cálcio e de fosfato de cálcio, e possui efeito alcalinizante na urina. Além disso, uma possibilidade simples e acessível de se elevar o volume urinário seria através do aumento do consumo de água.

 

Por outro lado, no caso de pacientes com DRC, em particular os submetidos a tratamento hemodialítico, a restrição de líquidos muitas vezes é necessária, quando o paciente apresentar quadro de retenção hídrica e/ou edema. Em geral, a prescrição de líquidos para pacientes em hemodiálise deve ser de 500ml/dia mais a diurese residual de 24 horas. Assim, se a diurese do paciente for de 300ml/24h, ele poderá consumir em torno de 800ml de líquidos ao dia.

 

Existe algum grupo de alimentos que pode beneficiar os rins pelas suas propriedades nutricionais? Quais seriam esses alimentos e suas principais propriedades?

 

Não existe um alimento específico que possa beneficiar os rins pelas suas propriedades nutricionais. O ideal é evitar o consumo excessivo de alimentos processados e com elevado teor de gorduras, proteínas e sal. Tem-se observado que uma dieta balanceada, com adequada ingestão de proteínas e leites e derivados magros, baixo consumo de sal, rica em verduras, frutas e sucos naturais, pode prevenir a formação de cálculos renais e auxiliar no controle da pressão e do desenvolvimento de outras doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade e diabetes, entre outras.

 

No caso de pacientes que já desenvolveram DRC, há muito se tem conhecimento de que uma dieta hipoproteica pode melhorar os sintomas urêmicos e prevenir ou tratar muitas complicações, como a hipertensão arterial, os distúrbios eletrolíticos, a acidose metabólica e os distúrbios minerais e ósseos da DRC. A melhora dos sintomas urêmicos com a dieta hipoproteica está associada a uma baixa ingestão de fosfato, sódio e ácidos, responsáveis pelas complicações citadas. Além disso, existem indícios de que a redução de proteínas poderia retardar a progressão da DRC. Finalmente, o único alimento que precisa ser abolido da alimentação de pacientes com DRC é a carambola, uma vez que essa fruta contém uma substância tóxica, que pode causar desde soluços até coma e morte em pacientes com DRC.

 

Além da alimentação e hidratação, quais outras recomendações são importantes para quem quer manter os rins funcionando bem?

 

Bons hábitos de vida de um modo geral são importantes para manter o bom funcionamento dos rins. Desse modo, recomenda-se não fumar, assim como evitar bebidas alcoólicas e drogas ilícitas. Deve-se manter atividade física regular, evitando-se o aumento do peso e obesidade. Quando se tem diabetes e hipertensão arterial, essas doenças devem ser cuidadosamente controladas, por serem as principais causas de DRC. O uso de medicações sem prescrição médica também deve ser evitado, pois alguns remédios lesam os rins, com destaque para os anti-inflamatórios, que são usados com frequência em situações em que não estão indicados. Além disso, como prevenção, recomenda-se que pelo menos uma vez ao ano seja feito exame de urina, dosada a creatinina no sangue e verificada a pressão arterial, com o objetivo de detectar precocemente doença renal. Deve-se ter em mente que a doença renal em geral não apresenta sintomas, por isso o diagnóstico precoce depende da realização periódica de exames. Quando diagnosticada cedo, a DRC pode ser controlada, evitando-se a progressão para as fases mais avançadas e a perda definitiva da função renal.

 

 

Fonte – Minha Vida

 
 
 

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