Icapuí - Ceará: pescadores acham

restos de possível navio negreiro

 

 

 

Marinha levará equipe de mergulhadores à praia da Barrinha, em Icapuí, para pesquisar a origem do acervo.

 

Fortaleza. A maré baixa está revelando mais que as ostras e caramujos que povoam as praias de Icapuí. Enquanto mirava para localizar peixes, Pedro José e outros dois pescadores encontraram pedaços da história do Ceará, a partir de restos de uma antiga embarcação e, possivelmente, de ossada humana presa a correntes. A Capitania dos Portos do Ceará tomou conhecimento do material e levará uma equipe de mergulhadores ao local. Pelo que avistaram no mergulho, os pescadores acreditam ter encontrado restos de uma embarcação que levava escravos. Os famosos navios negreiros.

 

"Quando eu vi aquelas correntes perto de ossos de gente parecia que eram presos, aí tão dizendo que poder onde prendiam os escravos", comenta Pedro José, que nunca tinha encontrado esse tipo de vestígio em 49 anos de idade e pelo menos quatro décadas pescando no mar de Icapuí. Mas não é novidade a presença de naufrágio neste pedaço do Ceará - pelo menos nove navios afundaram nos últimos 140 anos nos mares entre Aracati e Icapuí.

 

Mergulho

 

 

 

 

Tem dois meses que a pesca foi interrompida quando a maré baixa permitiu que a transparência da água revelasse uma mancha escura que culminou no mergulho dos pescadores a não mais que três metros de profundidade, em um ponto três quilômetros distante da praia.

 

"Não podemos dizer como é a embarcação porque tá muito enterrado. Mas tinha ossos, pregos de metal e muitas correntes", explica o pescador. Todos os objetos foram encontrados num raio de 30 metros.

 

A agência da Capitania dos Portos em Aracati, no Litoral Leste, foi informada do achado há cinco dias. "Enviamos equipes ao local para verificar de que se tratava, tendo constatado a existência de itens, como pedaços de canos e ferragens, retirados pelos pescadores do local. Será enviado um navio ao local, com mergulhadores, para colher maiores dados, a fim de possibilitar melhor avaliação e dimensionamento da importância dos restos localizados", afirma o capitão-tenente Pereira, comandante regional de Aracati.

 

A Marinha do Brasil não quis dar maiores esclarecimentos até a visita dos mergulhadores. Mas o material resgatado para terra pelos pescadores foram recolhidos pela Capitania dos Portos. Menos um pedaço de ferro que o pescador Pedro José suspeita ser de um canhão. "Está guardado em meu galpão, só vamos entregar a marinha depois de falar com o Ministério Público", afirma Pedrinho.

 

Reconhecimento

 

Isso porque o achado abriu um capítulo à parte: os moradores acreditam ter havido uma valiosa descoberta e temem que todo o material seja retirado dali. "Queremos que o nome do nosso município seja reconhecido e divulgado, que a Marinha não leve tudo, simplesmente", reclama Claudio Roberto, comerciante e liderança comunitária na comunidade da praia de Barrinha, próximo de onde o navio possa ter naufragado.

 

O capital tenente Pereira ressalta que as Normas da Autoridade Marítima para pesquisa, exploração, remoção e demolição de bens afundados, submersos, encalhados e perdidos estabelecem que é competência da Marinha do Brasil autorizar a pesquisa, exploração ou retirada de qualquer item achado nessas condições e, aquele que achar acervo em águas sob a jurisdição nacional está sujeito à Norma, devendo não alterar a situação no local e comunicar imediatamente o achado à Capitania dos Portos de sua região.

 

O não cumprimento da Norma em lide submete o infrator às sanções legais. Na prática, os pescadores já estão proibidos de pescar no local em questão.

 

"Precisamos fazer a nossa avaliação para termos mais respostas. Temos ido a Icapuí praticamente todos os dias. Mergulhadores irão ao local em viagem que está sendo programada", afirma o comandante.

 

O litoral que envolve Aracati e Icapuí tem grande importância histórica para o Ceará. Aracati foi o primeiro a concentrar as principais atividades comerciais do Ceará (incluindo escravos).

 

O seu porto natural recebeu vários navios. Um deles trazia Martins Soares Moreno, em meados dos anos 1600. Tornou-se Capitão-Mor do Ceará após participar da expedição de Pero Coelho no ano de 1603. Mas vieram muitos outros, seja para escoamento dos produtos comerciais (com destaque para a carne de charque) e mesmo com fins militares. Icapuí tem, no Ceará, a porção mais para dentro do Atlântico. O efeito prático disso é o ponto de passagem que se torna para os navios militares que viessem da Europa.

 

Prova disso foi o forte militar criado pelos portugueses para proteger da invasão de franceses e holandeses. Esses vestígios são encontrado em diversos sítios arqueológicos espalhados pelos litorais de Aracati e Icapuí.

 

Naufrágios

 

Entre 1873 e 1961, pelo menos nove embarcações sucumbiram no mar entre as cidades de Aracati e Icapuí, no Litoral Leste do Ceará. Um dos mais famosos é o naufrágio Macau, um grande navio que transportava material militar pesado e que, numa tentativa de reboque, afundou em 22 de dezembro de 1961.

 

Hoje, alguns navios naufragados, entre eles o Macau, são ponto de visitação de mergulhadores e arqueólogos que tratam do pedaço menos conhecido da história do Ceará: o que está "escondido" no fundo do mar. Por enquanto, em Icapuí, os moradores aguardam ansiosos sobre o resultado das investigações.

 

Capitania dos Portos do Ceará

Avenida Vicente de Castro, 4917

Bairro Mucuripe – Fortaleza

Telefone: (85)3133.5100

www.mar.mil.br/cpce

 

 

Fonte – Diário do Nordeste

 

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