Messejana e o Conjunto musical Big Brasa

 

Messejana na década de 60, era um distrito plenamente residencial, tanto é que a pracinha da matriz, a Praça Tristão de Alencar, parecia uma enorme sala de visitas, com todos morando no mesmo espaço, as pessoas se encontrando na praça, e as famílias sentadas nas rodas de calçada, de modo que todo mundo convivia no mesmo espaço, partilhava das mesmas novidades e experiências.

 

As amplificadoras, as tradicionais irradiadoras, faziam parte do cotidiano sem incomodar ninguém,já que todo mundo estava mesmo acostumado.

 

Quem morava na praça, era despertado pela irradiadora da paróquia, pois de manhã bem cedo, quando o dia começava a despontar de leve , o vigário local, Padre Francisco Pereira, jogava música sacra a todo volume para quem quisesse ouvir, e convidava com insistência a população para a primeira missa a ser celebrada. Não tinham quem não acordasse.

 

Mais tarde, a URJA (União Recreativa José de Alencar), que era um clube que ficava na praça e abrigava o Messejana Esporte Clube, um dos times de futebol local, abria a sua amplificadora e eis que a música tornava a invadir a praça de Messejana, só quem em estilo diferente do Pe. Pereira.

 

Eram tempos tranquilos, se podia varar madrugada sentado nos degraus do patamar da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a igreja local, enfronhado em altos bater papos, ou a farrear pura e simplesmente até o nascer do sol.

 

Como só havia um canal de televisão no Ceará e ainda em preto e branco, a TV Ceará Canal 2, cuja programação se situava em horários limitados, as pessoas interagiam mais, saíam mais de casa para conversar já que nem todo mundo tinha televisão, e essa mesmo, só funcionava do final da tarde, até as onze horas da noite ou um pouco mais, de modo que o rádio ainda era a grande vedete.

O Balneário Clube de Messejana

 

O Balneário Clube de Messejana era um clube local que funcionava a beira da lagoa de Messejana, e alternava na sua programação tertúlias ao som de vitrola, ou radiola como chamavam, com os discões de vinil rodando, com as festas com os conjuntos da época.

 

No repertório das tertúlias rolava  de preferência Ray Connif e sua orquestra, e Poly e sua Guitarra havaiana, Nas festas da primeira metade dos anos 60, bandas como Alberto Mota, Ivanildo, Canhoto, Paulo de Tarso animavam os bailes a rigor (com paletó e vestido chique) do Balneário. A formação desse conjuntos era todo montada em cima de instrumentos de sopro, metais como se chama. Um violãozinho elétrico fazia uma marcaçãozinha bem tímida,tudo no diminutivo. O contrabaixo era acústico daqueles bem grandões e um piano fazia a outra base. De rock mesmo nada, haja merengue, mambo, rumba, cha cha cha,bolero, samba e outras sabores latinos em voga naqueles anos inocentes e serenos.

 

O surgimento do Conjunto Big Brasa

 

Até quem em 1967, surgiu o Big Brasa,uma banda formada por jovens de messejana que a partir de serenatas para amigos e namoradas, tiveram a idéia de formar um conjunto de iê-iê-iê, que era como se chamavam as bandas de Jovem Guarda da Época. Com o apoio do contador Alberto Ribeiro da Silva, seu filho João Ribeiro (que ficou conhecido no meio musical como “Beiró”), e mais alguns adolescentes messejanenses, o rock, ou o pop rock dos anos 60, chegou ao Balneário de Messejana.


As guitarras eram artesanais no início, feitas aqui mesmo pelo grupo Rataplans, excetuando uma guitarra Ritmo II da Gianinni, e com o tempo, os instrumentos foram se modernizando.

 

Em pouco tempo, o Big Brasa foi sendo adotado pelo Balneário como a banda da casa, tocando as matinais, tertúlias e festas do Balneário. Era gostoso tocar olhando para o azul da lagoa, e sentir que se estava colaborando para que as coisas mudassem um pouco em Messejana. Ao longo da segunda metade da década de 60, o Big Brasa marcou presença no clube, principalmente nas tertúlias. Era o tal esquema- Todo mundo se reunia na praça na hora da missa dos sábados e dos domingos, e se mandava para o balneário dançar e ver o Big Brasa tocar, e trazer a músicas dos anos 60 para Messejana, colaborando para arejar os costumes e fazendo com que as pessoas ficassem mais alegres e descontraídas.

 

Eram tempos de muita pureza e inocência, que permitiam que uma paquera se resumisse em dançar com a menina que estava a fim e a fosse deixar em casa por volta da meia noite ou uma hora da manhã, em uma época em que se podia percorrer tranqüilamente as então bucólicas ruas de Messejana. Eram tempos castos, de muita inocência e muito sonho, e o Big Brasa fez a sua trilha sonora. Quem os viveu jamais esquecerá.

 

Luiz Antônio Alencar - Peninha.  
Eterno Big Brasa, músico e jornalista.

Colaborador do Portal Messejana.

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