Como falar de Papai Noel?

 

 

 

Especialistas defendem: estimular a fantasia no bom velhinho é saudável para o desenvolvimento dos pequenos. Entenda o porquê.

 

Ninguém deve tirar de uma criança a capacidade de fantasiar

 

O Natal, uma das festas mais comemoradas em todo o mundo, está chegando. É época de esbarrar com Papai Noel em ruas, lojas, shoppings, restaurantes. O que não é nada mal, já que ver os filhos felizes é um dos maiores prazeres de pais e mães. Mas estimular a fantasia é saudável para o desenvolvimento dos pequenos? "Incentivar a crença no Papai Noel é absolutamente saudável. Mais do que isso: é imprescindível! Toda criança merece viver o encantamento do Natal", garante a psicoterapeuta e contadora de histórias Alessandra Giordano, de São Paulo.

 

 

 

Ninguém deve tirar de uma criança a capacidade de fantasiar. De acordo com os especialistas, o papel dos pais é, ao contrário, facilitar o mundo da imaginação para os pequenos, oferecendo-lhes todas as possibilidades de sonho e fantasia. "O Papai Noel é, sem dúvida, uma das recordações mais bonitas que trazemos da infância. E o que fica registrado em nosso inconsciente não é só a figura do entregador de presentes, pois o Papai Noel representa muito mais do que isso. O velhinho barbudo e simpático é o valor da família, da fraternidade e da bondade. E é também o respeito ao idoso", defende Rosana Zanella, psicóloga e professora do Instituto Sedes Sapientiae e da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), de São Paulo.

 

Além de proporcionar uma infância mais feliz e cheia de imaginação, o Papai Noel também oferece outras representações simbólicas. "É ele que vai se esforçar para atender aos nossos desejos. A ideia de que vamos encontrar bons velhinhos ao longo da vida é o que nos ajuda a aguentar o 'tranco'. É o que chamamos de fé na vida", diz Carolina Scheuer, psicóloga especialista em psicanálise da criança.

 

Ela afirma que as figuras mitológicas criadas na infância são fundamentais durante todo o nosso percurso. "De modo geral, a realidade é uma coisa difícil de ser digerida sem 'amortecimento', na infância e na vida adulta." É claro que adultos e crianças lidam com a fantasia de maneiras completamente diferentes, mas todos, em algum grau, precisam dela para dar conta de suas angústias e ansiedades. "É pela via do imaginário e da fantasia que conseguimos elaborar nossas questões afetivas e isso começa na infância", afirma Carolina.

 

Muitos pais têm dúvidas sobre o que dizer aos filhos a respeito do Papai Noel. Diante desse dilema, a psicanalista austríaca Melanie Klein (1882-1960) experimentou negar a fantasia aos seus rebentos. Ela acreditava que a realidade deveria prevalecer em qualquer circunstância. Mas, certo dia, deparou-se com um pedido dos filhos: eles queriam se mudar para a casa da vizinha. Intrigada, perguntou o motivo e encontrou a resposta: é que lá existia Papai Noel. "O caso está registrado em uma das contribuições de Klein à psicanálise e mostra que a fantasia é intrínseca à criança, queiram os pais ou não", avalia Carolina.

 

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Por que a fantasia é importante para o desenvolvimento intelectual?

 

Estimular a crença no Papai Noel (e em outras figuras mitológicas) tem outra função valiosa, que é a de aumentar a criatividade das crianças. Ao delinearem internamente cada personagem, definindo suas características, os pequenos são expostos a experiências originais de imaginação. "Sem essas experiências, o pensamento ficaria muito restrito", define Carolina Scheuer, psicóloga especialista em psicanálise da criança. "A imaginação é um recurso que nos transporta para todos os tempos, todos os lugares. Ajuda, inclusive, no desenvolvimento da linguagem", acrescenta a psicoterapeuta e contadora de histórias Alessandra Giordano.

 

Existe idade certa para desfazer a fantasia?

 

A crença no Papai Noel costuma coincidir com uma fase do desenvolvimento infantil em que o pensamento da criança é bastante centrado na fantasia. Esse período vai dos 6 meses aos 7 anos, aproximadamente, mas fica mais intenso a partir dos 2 anos, quando a linguagem começa a se desenvolver. Vale lembrar, no entanto, que essa é uma questão muito individual. "As crianças começam a desconfiar de que Papai Noel não existe por volta dos 7 anos, quando tem início uma estruturação mental que já trabalha com o concreto. Mas isso varia de uma criança para outra. Não existe uma hora certa para deixar de crer no bom velhinho. Elas acreditam até a idade em que precisam acreditar", explica a psicóloga Rosana Zanella.

 

A descoberta da verdade deve acontecer espontaneamente, ou seja, os pais não precisam se encarregar dessa tarefa. "As famílias não têm de desmascarar a fantasia dos pequenos. Por que impedir a criança de vivenciar essa magia mais um pouco? É preciso respeitar o tempo de cada criança", defende a psicoterapeuta e contadora de histórias Alessandra Giordano. Ela afirma que a criança só vai sair magoada e frustrada se a ruptura for abrupta, destrutiva. "Do contrário, o que tende a ficar é uma gostosa recordação." O fato é que a criança não descobre a verdade de uma hora para outra. Ela começa a desconfiar aos poucos, observando as manobras da família (por exemplo, tirando-a da sala para o Papai Noel poder deixar os presentes), ouvindo cochichos, percebendo olhares. São evidências, mas ela só vai reuni-las - e tirar alguma conclusão lógica - quando tiver maturidade para isso. Apesar dos muitos perfis, se a crença no Papai Noel persistir depois dos 10 anos, o que é mais incomum, os pais podem procurar refletir se está faltando alguma outra fonte de fantasia para a criança. Esse pode ser um raciocínio também no caso de o pequeno se frustrar demais com a descoberta.

 

E se a criança perguntar se o Papai Noel existe?

 

Em algum momento do desenvolvimento da criança, ela aparecerá com essa pergunta: "Mãe, é verdade que Papai Noel não existe?". Especialistas recomendam que os pais não confirmem nem neguem totalmente. "Uma boa resposta nessa hora, lembrando que pode ser apenas desconfiança da criança e que ela não esteja preparada para romper de vez com essa fantasia, é dizer que "ele existe para quem acredita nele", aconselha Paula Furtado, psicopedagoga e escritora, de São Paulo. Outro caminho é devolver a pergunta para a criança, ajudando-a a estruturar seu pensamento: "O que você acha filho? Como você imagina que seja?". A psicoterapeuta e contadora de histórias Alessandra Giordano, que é autora do livro "Contar histórias, um recurso arteterapêutico de transformação e cura" (Editora Artes Médicas) pontua: "A criança precisa ser ouvida também. Assim, evita-se um choque de realidade".

 

Como lidar com o irmão mais velho?

 

Os pais podem não contar, mas e o sabichão da casa, o irmão mais velho? Para a psicoterapeuta e contadora de histórias Alessandra Giordano, essa questão pode ser resolvida de um jeito simples ao criar uma cumplicidade com o primogênito. "Pode-se sentar com ele e explicar que o irmão mais novo ainda é pequeno e que é preciso tratá-lo com carinho e lhe contar histórias, inclusive do Papai Noel. A criança certamente se sentirá importante com esse pedido." Ela explica que, se o filho mais velho tiver crescido num ambiente em que a contação de histórias é valorizada, ela saberá respeitar a fantasia do irmão mais facilmente.

 

Como escrever a carta para o Papai Noel?

 

A carta para Papai Noel por si só já faria a fantasia no bom velhinho valer a pena. Os pais devem providenciar tanto o envio (que é feito na companhia das crianças), quanto a resposta, que costuma ser recebida com a maior euforia pela garotada. "Não dá nem para mensurar o efeito da chegada da carta na autoestima da criança. É realmente mágico", comenta a psicóloga Rosana Zanella. A psicopedagoga Paula Furtado aponta um ganho pedagógico muito grande no ato de escrever a carta, que é mostrar à criança a função social da escrita e da leitura. "Elas escrevem e leem por intermédio dos pais e isso ajuda muito no desenvolvimento da linguagem", comenta.

 

Por isso, o melhor a fazer é não economizar nem tempo nem esforço nessa tarefa. Entregue vários materiais escolares aos pequenos e peça que façam um desenho para o Papai Noel, que escrevam seus nomes (se já souberem escrever) e que relembrem tudo o que fizeram de bom durante o ano. "Se houve algum mau comportamento também é válido recordar, para se trabalhar valores", complementa Paula.

 

Uma saia-justa que pode aparecer nesse momento é a criança pedir ao Papai Noel um presente muito caro, que os pais não poderiam comprar depois. Mas é contornável: oriente a criança a dar mais de uma opção ao Papai Noel ou, ainda, aconselhe-a a pedir algo mais acessível, pois afinal de contas ele terá muitas crianças para presentear. Depois da carta, vem a espera, e com esta as crianças de hoje não estão habituadas a lidar. "Elas andam muito imediatistas, mas com o Papai Noel não funciona. Elas têm de esperar pela chegada da carta e depois do presente. Desenvolver esse trabalho pode ser muito benéfico para os filhos", avisa Paula.

 

 

Fonte – Educar para crescer

 

 

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