O Conjunto Big Brasa e Os Faraós inovaram muito em uma união marcante!

 

 

 

E FOI ASSIM QUE TUDO ACONTECEU

O Conjunto Big Brasa, por volta de 1974, estava com dificuldades de arranjar músicos para continuar, já pensaram nisso? Pois ocorreu assim. No texto a seguir detalhes de como ocorreu a parada do Big Brasa e o início de uma temporada de três anos com os Faraós, o que motivou inúmeras inovações!

E A ESTÓRIA CONTINUA

Neste texto apresento ainda pormenores, pelo meu ponto de vista, sobre o momento musical que atravessamos naquele período. É o início de novos registros, tendo em vista que pretendo ainda fazer uma atualização do livro “O Big Brasa e Minha Vida Musical”, lançado em 1999 em Messejana, com muitas complementações do que aconteceu depois do encerramento do Big Brasa até os dias atuais. Todas as lembranças, fotografias e registros, de parte dos amigos, serão bem recebidos, particularmente no grupo sobre Big Brasa, Faraós, Rataplans e tudo sobre os Anos 60, que temos no Facebook (clique aqui para conhecer).

A SITUAÇÃO MUSICAL EM 1974

Na época eu ainda trabalhava na TVE (Televisão Educativa do Ceará), como sonoplasta e tocava teclado nos finais de semana em recepções na noite de Fortaleza (casamentos, aniversários etc.). Pois bem, o Conjunto Big Brasa entrou em uma verdadeira “sinuca de bico”. Não tinha tecladistas disponíveis em Fortaleza, acreditam? E fiquei com um dilema: se passasse a tocar teclado não conseguiria um guitarrista-solo ao nível do que precisávamos. Ainda tentamos alguns meses, mas a dificuldade em razão da falta de músicos não teve jeito a não ser encerrar as atividades do Conjunto Big Brasa. O Adalberto, que foi guitarra-base conosco, por algum tempo também aprendeu a tocar teclados e ficou conosco até a formatura dele em Agronomia, quando não pode mais ficar no grupo. E assim tivemos que encerrar as atividades. Eu permaneci com todos os equipamentos em nossa sede, os quais posteriormente viriam a complementar alguma coisa com Os Faraós, como direi no decorrer deste registro. A foto seguinte trás uma das formações do Conjunto Big Brasa, da esquerda para a direita: Severino Tavares (baterista), João Ribeiro (guitarra-solo), Lucius Maia (contrabaixista e vocalista e Edson Girão (guitarra-base e vocalista. Com este "time", decorrente dos programas de televisão pela TV Ceará, Show do Mercantil e Studio 2, este realizado diariamente, recebíamos centenas de cartas todas as semanas, remetidas por fãs de todo o Estado. Dessas cartas guardo ainda todas, com muito carinho, e soube que o Edson Girão também guarda. Eram garotas solicitando músicas, elogiando o Conjunto, pedindo fotografias, e algumas também se dizendo "apaixonadas". Bom lembrar que passamos por isso!     

 

 

GUITARRA-SOLO OU TECLADO?

O meu instrumento musical no Conjunto Big Brasa, independente de alguma prática em outros, era mesmo guitarra-solo. Foi como desenvolvemos nossa atividade musical, tanto em bailes quanto na televisão cearense e ainda ao acompanhar nomes famosos do cenário nacional, que se apresentavam na TV Ceará Canal 2 e também o Pessoal do Ceará, inclusive artistas como Ednardo, Belchior, Jorge Mello. Ainda jovem eu tive que exercer a liderança do Conjunto no que dizia respeito a contratos e comando da rapaziada, quanto em nossas participações em programas de televisão na TV Ceará Canal 2, da extinta Rede Tupi de Televisão. Neste ponto trocava muitas ideias com o Lucius Maia (nosso contrabaixista e cantor da maioria das músicas em inglês) e posteriormente com o Airton França, por sua experiência musical com os metais. O Edir Bessa sempre dizia “topar tudo que eu fizesse”, o que demonstrava sua confiança em minhas decisões. O Edson Girão complementava bem o grupo com suas contribuições valiosas nas harmonias e também como um dos cantores do grupo. Foi uma direção bem aceita por todos os músicos que atuaram conosco e sempre nós decidimos tudo democraticamente.

A FALTA DE MÚSICOS EM FORTALEZA

Por volta de 1974 o pessoal todo foi se formando e cada um seguindo seu novo caminho. Como o meu pai sempre nos dizia, “música, no Ceará, não daria camisa a ninguém”. E ele tinha razão quando frisava isso. Tivemos orientação dele, no início do Conjunto, de privilegiar os músicos que tivessem muito profissionalismo e seriedade nos compromissos. Assim o Conjunto Big Brasa sempre preferiu um músico mediano, se fosse o caso, a um virtuose, mas que não correspondesse a outros de nossos critérios comentados. Tínhamos muitas dificuldades também nas épocas de carnaval de do reveillon, por causa da carência de instrumentistas de sopro, os metais, como pistonistas, saxofonistas, trombonistas etc. Eles eram muito procurados por serem poucos. Somente encontrávamos músicos assim daqueles que tocavam nas bandas de música militares e que no período estavam disponíveis.

O CONSERVATÓRIO DE MÚSICA ALBERTO NEPOMUCENO

Quando o Conservatório de Música Alberto Nepomuceno foi encampado pela Universidade Estadual do Ceará prestamos exame vestibular e participei da primeira turma de Licenciatura em Música! De lá para cá, passados muitos anos, acredito que a situação tenha mudado para melhor e que a Instituição tenha influído neste processo, pois Fortaleza conta com músicos novos, talentosos, na atualidade. Na realidade nós do Big Brasa iniciamos bem antes desta do Conservatório e tivemos que aprender tudo como autodidatas ou com noções musicais, no meu caso, desde criança, quando comecei a tocar acordeon, ainda quando morava em São Paulo. Com todos os nossos amigos a situação foi semelhante. Tenho certeza de que agora, em 2015, a situação é bem diferente e a presença e disponibilidade de músicos de qualidade em Fortaleza maior ainda. Um detalhe que considero importante é que, mesmo quando um músico se destaca bastante no Ceará (como em outros estados) é muito difícil para fazer sucesso no Brasil! A não ser que se desloque para trabalhar no eixo Rio de Janeiro / São Paulo e consiga destaque nas principais redes e programas de televisão.

QUANDO O CONJUNTO BIG BRASA SE UNIU AOS FARAÓS - MUITO SOM!

Na época ingressei no grupo Os Faraós como tecladista, fazendo dupla com o Luisinho Magalhães (também guitarrista-solo e vocalista) e seus irmãos Sebastião Magalhães (contrabaixista e vocalista), Antonio Carlos (baterista) e Vicente Magalhães (guitarra-base e vocalista). Tivemos oportunidade de “tirar” sons incríveis. Neste período o grupo Os Faraós estavam também quase parados, em situação semelhante, conforme veremos a seguir.

BOAS CONTINGÊNCIAS DA VIDA

Não foi bem uma sociedade, com contrato escrito e demais características. Passei a integrar o conjunto “Os Faraós”, como tecladista, depois de alguns meses após o Conjunto Big Brasa ter encerrado suas atividades. Nessa época os “Faraós” também estavam um pouco desmobilizados e as condições do mercado de trabalho não eram muito favoráveis, pela existência de uma grande quantidade de conjuntos em Fortaleza naquele período, além das inúmeras discotecas que invadiram a cidade com som mecânico, tomando o campo de trabalho dos músicos. Eles se encontravam sem parte do instrumental e eu com todo o material do Big Brasa. Foi uma junção perfeita, pois o grupo “Os Faraós” passou a contar com a minha modesta participação como tecladista, mas que certamente veio mudar a sonoridade característica do conjunto e enriquecer musicalmente o grupo, também pelo fato do teclado aumentar as possibilidades de arranjos e de estilo de repertório.     

DOIS CONJUNTOS MUSICAIS COM SONS E ESTILOS BEM DEFINIDOS

Vale destacar primeiramente que o Conjunto Big Brasa e Os Faraós não se consideravam rivais ou concorrentes. Por várias vezes ambos participaram de diversas promoções de grande sucesso em Fortaleza. Cada um tinha o seu público e o seu estilo definido. De tal forma que quando alguém chegava perto ou entrava em um clube facilmente poderia identificar quem estava tocando – se Big Brasa ou Faraós. Sempre admirei muito o Luisinho Magalhães como solista e como cantor e sentia que a recíproca era verdadeira, no que se refere a minha participação no conjunto como tecladista e ainda na época do Big Brasa, quando éramos os dois “concorrentes” como guitarristas-solo, cada um com seu estilo pessoal e inconfundível, na época.  

  

 

 

O conjunto “Os Faraós” foi um dos grupos de rock de muito sucesso que existiu em Fortaleza. Formado por quatro irmãos, Luisinho, Sebastião, Vicente e Antônio, tinha uma marca registrada: repertório quase que totalmente direcionado para músicas em inglês. Não tocava um samba nem para fazer remédio, como se diz popularmente. Sempre muito bem ensaiado, possuía um vocal muito bom e apurava seus arranjos de forma a ficarem idênticos aos originais. Seu líder era o habilidoso guitarrista-solo Luisinho Magalhães, nosso amigo, o qual era possuidor de uma magnífica voz. O som dos “Faraós” era inconfundível. O meu pai sempre disse que gostava mais dos Faraós do que dos Beatles.  E justificava sua afirmação para o Luisinho, dizendo que ouvia os Beatles com a razão e os Faraós com o coração.

O QUE PUDE ACRESCENTAR NO PERÍODO COM OS FARAÓS?

Além de contribuições no campo musical, combinando com a existente nos Faraós, levamos algumas experiências tecnológicas. Do repertório, a variedade de estilos que faltava ao Conjunto Os Faraós, pois o Conjunto Big Brasa tinha uma característica de tocar de tudo. Ideia que brilhantemente o amigo Luisinho Magalhães adota até hoje com sua excelente banda musical, que também tem no repertório uma variedade de estilos, com muito sucesso! Mais exemplos de minha empolgação pelo novo grupo:  

UMA MESA ARTESANAL DE ILUMINAÇÃO E EFEITOS

Sem desmerecer nenhum pouco aqueles músicos que hoje podem usufruir da tecnologia existente, mas o negócio é o seguinte:

Nos anos 60/70 não tínhamos a moleza e facilidade que temos hoje em dia, quando os grupos compram os equipamentos no ponto de instalar e usar. Pois bem, naquela época, mais ou menos em 1974, falei com o Brito, um amigo e excelente eletricista que trabalhava conosco na Engenharia da TVE (TV Educativa) e projetamos uma mesa de luz, efeitos, completamente artesanal. Ficou espetacular mesmo! Mas tudo foi feito por nós! Fiação, relés de disparo, acionadores diversos. Nessa mesa podíamos ligar todos os refletores e fazer as combinações com luzes estroboscópicas e de outros tipos. Também através desta mesa podíamos acionar os efeitos especiais de “bombas de fumaça”, que por ser uma novidade chegou a assustar muita gente em todo o Ceará e em Fortaleza, também. Juntamente com o Sebastião Magalhães, chegamos a construir várias e boas caixas de som, na sede do Big Brasa, as quais foram muito usadas em incontáveis eventos. 

ALGUNS TECLADOS “NOVOS”

Com os teclados de marca Minami, o Poly800 (sintetizador) e vários pedais de efeito associados, adquiridos em Manaus, eu conseguia driblar as dificuldades e conseguir sonoridades novas e empolgantes.  

ADAPTAÇÕES NOS EQUIPAMENTOS E INSTRUMENTAL

Nos primeiros ensaios, fizemos todas as devidas adaptações de nosso instrumental. Alguns amplificadores do Big Brasa, somados com as excelentes caixas de som Bussfle fabricadas pelos próprios “Faraós”, acessórios de toda ordem e o conjunto ficou pronto. Havia muita empolgação no ar e ânimo por parte de todos, visto que o Conjunto “Big Brasa” e “Os Faraós” não se consideravam rivais e juntos, por várias vezes participaram de diversas promoções de grande sucesso em Fortaleza. Cada um tinha o seu público e o seu estilo definido.

MUITOS BAILES E SHOWS

Foram inúmeros os bailes e shows que participei nessa temporada com “Os Faraós”, entre os anos de 1973 e 1977. No palco sempre muita potência de som, volume alto, jogo de luzes e efeitos diversos que eram experimentados a cada tempo. Havia uma mesa de luz e de efeitos, por exemplo, que comandava inclusive a explosão das chamadas “bombas de fumaça”, criadas por nós, de fabricação caseira. Essas bombas eram caixas retangulares de madeira com fusíveis de pedaços de fio, nas quais colocávamos, a princípio, somente pequena quantidade de pólvora. O problema era quando o Castorino (in memoriam) exagerava nas porções de pólvora e a “chibatada” era grande. Nas sequências mais animadas de rocks ou nas músicas que antecediam os intervalos as bombas de fumaça eram disparadas. A pólvora queimava e subia rapidamente se espalhando por todo o palco e encobrindo totalmente os integrantes do conjunto. Produzia um efeito visual excelente, mas em compensação o cheiro da pólvora era de amargar. Resolvemos esse problema mais adiante, misturando muito incenso à pólvora. A luminosidade dos disparos também ficou mais clara e bonita. Chegamos até a utilizar extintores de incêndio para produzir efeitos em meio a tudo. Eles ficavam com as mangueiras na frente do palco e eram acionados por mim, exatamente na hora das músicas de maior peso e agitação, de perto dos teclados. Tudo era muito divertido e o pessoal curtia demais as novidades. Éramos no momento o único grupo a produzir tais efeitos aqui no Ceará! O Show "Dancing Days", realizado por nós no Ginásio Paulo Sarasate, vai ser motivo de uma nota à parte, em breve!

Quanto às luzes, chegamos a utilizar até oito lâmpadas estroboscópicas distribuídas pelo palco, mais dezesseis refletores coloridos. Em algumas oportunidades usamos também gelo seco, para produzir aquela cortina de fumaça branca que ficava espalhada por todo o ambiente. Dia a dia criávamos mais novidades e o pessoal gostava muito. A mistura desses efeitos com o pesadíssimo som que tirávamos era sensacional e às vezes impressionante.

Nós tínhamos muito cuidado na preparação dos efeitos, principalmente das bombas de fumaça, para que não houvesse acidentes. Mas sempre tem aqueles que não se preocupavam muito com o perigo. Uma noite em Maranguape, antes de acionar duas bombas de fumaça e extintores eu avistei um cara encostado no palco, de costas para o conjunto. Larguei imediatamente os teclados e fui alertá-lo no sentido de que ele estava muito próximo das bombas e que aquilo ali iria “explodir” para cima. Como o conjunto estava tocando a pleno vapor, e o som do instrumental muito alto, tive que gesticular bastante, apontando para os dispositivos, para que ele me entendesse. Mas o elemento nem ligou, permanecendo na mesma posição. Como não tinha outro jeito e tudo estava posicionado corretamente, no momento determinado o nosso bigu detonou duas bombas de fumaça e eu acionei os extintores. Tudo isso ao mesmo tempo. Foi uma cortina de fogo tão grande atrás desse cara que ele se assustou e afastou-se, meio chamuscado, “fedendo a cão”. Nós quase morremos de achar graça do susto que ele levou. Depois disso fizemos intervalo, no qual soubemos que o dito cujo estava reclamando por que o conjunto tinha queimado um pouco sua camisa nova. Que pena... Falta de aviso não foi.

Em outra oportunidade, no Clube Vila União, soubemos que um garçom tinha corrido em direção ao bar, gritando para todos que o palco estava pegando fogo, porque viu fumaça saindo por cima do teto. O aviso quase causou pânico generalizado, se não tivesse sido desmentido a tempo. Foi a maior gozação em cima do rapaz, via-se logo que ele ainda não conhecia nossos “efeitos especiais”.

Nossos maiores embalos sem dúvida foram realizados no Memphis Club, de Antônio Bezerra. Eram festas animadíssimas, descontraídas, o público gostava demais do conjunto e vibrava com o nosso som e efeitos apresentados. Apesar da responsabilidade pelos contratos nessa época ser do Luisinho, eu sempre me preocupava muito com tudo. Inclusive com a montagem do instrumental. O meu amigo Sérgio Alves, anteriormente bigu do Big Brasa, passou a nos acompanhar e muito nos ajudou também nesse período. Fazia tudo com boa vontade, mesmo sabendo que para desmontar toda a fiação no final de cada baile, mais de duzentos metros de fios e cabos tinham que ser dobrados e guardados, além das pesadíssimas caixas de som, amplificadores e acessórios diversos.

Guardo assim ótimas recordações desse período em que integrei “Os Faraós”. Nossa convivência e relacionamento foram excelentes.

 

João Ribeiro ("Beiró", como era conhecido) 



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