Artes Marciais - Agressividade X Violência 

Muita gente acha que a prática das artes marciais estimula a violência. Que o praticante de uma luta qualquer é, por certo, uma pessoa violenta ou agressiva. O que não é para menos, já que a maioria das artes marciais envolve combate corpo a corpo, mesmo que, por vezes, usando variados tipos de proteção.

O fato é que há luta, há contato físico, há adrenalina, suor, pancadas, contusões, quedas e muito mais. Desta forma, podemos observar que a prática das artes marciais envolve agressividade. Mas também envolve algo que, para o leigo, é mais difícil de ser observado: o controle da agressividade. Precisamos então, fazer uma distinção, entre violência e agressividade. Conceitos que no senso comum são facilmente confundidos.

Pensemos então, toda ação humana envolve agressividade. É preciso ser bem agressivo para se botar carne na mesa. Tem-se que matar o boi, sangrá-lo, cortá-lo em pedaços pequenos, etc. Claro que vivemos em uma sociedade onde as crianças vêem a mãe comprar filé cortado e já temperado no mercado.

Desta forma, não só as crianças, mas muitas pessoas acabam esquecendo que a agressividade, bem empregada, é um fator determinante para a sobrevivência. Por exemplo: é preciso ser agressivo para acordar cedo, numa manhã fria e ir trabalhar; uso agressividade quando tento consertar a torneira da cozinha; sem falar da agressividade necessária para defender meus direitos e exercer minha cidadania.

O que quero dizer é que não podemos confundir agressividade com violência. Agressividade é um atributo natural a todo ser humano. Nossa vontade de vencer, nossa determinação, nossa gana, nossa coragem, são elementos desta agressividade. Violência é o uso desmedido da agressividade. É a falta de controle sobre nossos impulsos agressivos, falta de controle sobre nós mesmos.

Na prática de artes marciais, o uso da agressividade é estimulado, porém controlado. O praticante de artes marciais conhece melhor a si mesmo, pois entra em contato com seu corpo, seus medos, seus limites e potenciais e, portanto, controla melhor seus impulsos agressivos, aprendendo a usar sua agressividade da melhor forma.

Além disso, uma prática adequada de artes marciais trabalha socialização, respeito e disciplina social, fatores que inibem a violência. No Karate, diz-se que tudo começa com uma cortesia e termina com uma cortesia. Boas escolas marciais são lugares onde encontramos companheirismo e amizade.

Violência e artes marciais não combinam. O artista marcial treina o bom uso da agressividade, treina a não violência. Através da prática correta da arte marcial, torna-se uma pessoa mais equilibrada, mais determinada, mais paciente e mais preparada para os desafios da sociedade moderna. É uma pessoa capaz de reagir de forma efetiva e objetiva a situações adversas, sem perder o controle.

Quanto mais se conhece sobre Arte Marcial, mais se percebe que estas artes de guerra, são na verdade, artes da paz e para a paz.

Eliezer Magno Diógenes de Araújo

Psicólogo e praticante de Karatê-Dô.

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