Por que antibiótico contra conjuntivite pode ser a coisa errada a se fazer 

 

Tratamento para conjuntivite

 

Médicos e oftalmologistas estão emitindo um alerta de que a maioria das pessoas com conjuntivite aguda está recebendo o tratamento errado.

 

Cerca de 60% dos pacientes recebem receitas com colírios antibióticos, ainda que os antibióticos raramente sejam necessários para tratar esta infecção comum dos olhos, afirmam eles.

 

Além disso, dos pacientes que receberam prescrições de antibióticos, 20% receberam receitas de colírios com antibióticos esteroides, que podem de fato prolongar ou piorar a infecção.

 

"Este estudo abre os olhos sobre a prescrição de antibióticos para uma infecção ocular comum," resumiu o professor Nakul Shekhawat, da Universidade de Michigan (EUA).

 

 

 

Colírio antibiótico

 

Usando dados de uma grande rede de hospitais nos Estados Unidos, os pesquisadores identificaram o número de pacientes que receberam receitas de antibióticos na forma de colírio para conjuntivite aguda. Eles então avaliaram as características desses pacientes em comparação com aqueles que não receberam esse receituário para a mesma condição.

 

Entre 340.372 pessoas diagnosticadas com conjuntivite aguda durante um período de 14 anos, 58% receberam uma receita de antibiótico na forma de colírio.

 

A maioria dos pacientes foi diagnosticada por não especialistas, como um médico de medicina familiar, pediatra, médico interno do hospital ou médico de atendimento de urgência. Apenas uma minoria foi diagnosticada por especialistas em cuidados oculares, como oftalmologistas ou optometristas.

 

Receita por classe social

 

Os pacientes diagnosticados por um médico de cuidados primários ou urgentes tiveram de duas a três vezes mais probabilidade receberem uma receita de colírios antibióticos do que os pacientes diagnosticados por um oftalmologista.

 

De forma um tanto surpreendente, a probabilidade de receber essa receita dependeu mais do status socioeconômico do paciente do que do risco de o paciente desenvolver uma infecção ocular mais grave. Os pacientes que saíram dos consultórios com a receita de antibióticos eram significativamente mais propensos a ser brancos, mais jovens, mais bem-educados e mais afluentes do que os pacientes que não recebiam a prescrição.

 

"O estudo mostra que as decisões atuais de tratamento de conjuntivite não são baseadas em evidências, mas são muitas vezes determinadas mais pelo tipo de profissional de saúde que faz o diagnóstico e pelo status socioeconômico do paciente do que por razões médicas," disse Shekhawat.

 

Por que antibióticos para conjuntivite?

 

Os pesquisadores destacam ainda que existem várias razões pelas quais os antibióticos são prescritos em demasia para a conjuntivite.

 

Causa desconhecida: É difícil diferenciar a conjuntivite bacteriana das formas viral e alérgica. Todos os três tipos podem ter características similares, como vermelhidão nos olhos, secreção, irritação e sensibilidade à luz (fotofobia). Os médicos podem não ter certeza da causa e receitam antibióticos "só para o caso de precisar".

 

Políticas escolares: As crianças com conjuntivite podem não ser aceitas na escola ou creche a menos que estejam sendo medicadas. A revista Ophtalmology, onde o artigo descrevendo o estudo foi publicado, fez um editorial no qual essas políticas são chamadas de "altamente inconvenientes para pacientes e pais" e "desprovidas de evidências", considerando que a conjuntivite viral, de disseminação mais rápida, provavelmente não será influenciada por um antibiótico tópico.

 

Falha na educação do público: Os pacientes muitas vezes desconhecem os efeitos colaterais prejudiciais dos antibióticos e acreditam falsamente que os antibióticos são necessários para que a infecção se resolva.

 

"Educar os pacientes sobre conjuntivite aguda, muitas vezes benigna, de curso autolimitado, pode ajudar a dissipar os equívocos sobre a condição e reduzir as demandas reflexivas para o uso imediato de antibióticos," finalizou o Dr. Joshua Stein, coautor do estudo.

 

 

Fonte – Diário da Saúde



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