Série: TV Ceará, Canal 2 – Capítulo VIII

O Programa “Studio 2”

 

 

 

 

Programa “Studio 2”

Programa de muita audiência da TV Ceará Canal 2, no qual o Conjunto Big Brasa se apresentou por mais de três anos. Levado ao ar diariamente, o programa abordava, através de entrevistas, temas diversos, dirigidos principalmente às mulheres. Diversos artistas nacionais, cantores, pessoal de teatro e outras personalidades de destaque participaram do “Studio 2”.

 

Dentre os artistas que lembro a Dercy Gonçalves, sempre irreverente e alegre, com as mesmas brincadeiras, mas com bem menos palavrões, tendo em vista a censura existente naquele período. O famoso músico Zé Menezes, que deu um verdadeiro show, também foi com acompanhado com muita honra pelo Big Brasa. No dia em que esteve no programa, ele usou minha guitarra, para executar alguns solos e improvisos. Ambos não estão mais fisicamente conosco.  

 

Às vezes a contrarregra produzia um cenário um pouquinho melhor do que as simples cortinas e tapadeiras, que eram divisórias de compensado para encobrir um ou outro defeito do cenário. Colocavam mesas e cadeiras como num bar, com plateia e o ambiente ficava mais alegre e descontraído.  A luta do pessoal do estúdio era sempre no sentido de manter o silêncio daqueles que não estavam em cena, para não atrapalhar o programa, realizado ao vivo.

 

Durante praticamente toda a semana deixávamos o instrumental no amplo estúdio da TV Ceará onde se realizava o “Studio 2”. Esse material era levado para casa apenas para os ensaios do conjunto. Para nós, músicos e o restante do pessoal que ali trabalhava, o horário se tornava complicado. De Messejana eu saía em nosso jipe 51, com o Adalberto, mais ou menos às 11 horas, de segunda a sexta-feira, para sempre chegar a tempo. Nunca deixamos de cumprir esse horário, certinho.

 

 

 

 

  

Nós sempre achamos que o som gerado pelo Studio 2 sempre foi melhor que o do Show do Mercantil. Deve-se isso, com certeza, aos operadores de áudio, aos bons microfones e principalmente pela própria acústica do ambiente, que nos favorecia.  

 

No estúdio a distribuição se fazia com uma “girafa”, que para quem não sabia é um suporte bem grande, na forma de um guindaste, que podia movimentar o microfone por cima de todo mundo, captando bom o som de cada cena. A girafa ficava por cima de todo o conjunto e captava o que fosse possível.

 

Havia também os microfones de lapela e os “varacionais”, explico: como a TV não possuía microfones direcionais, aqueles que captam bem o som em uma determinada direção, o pessoal da equipe técnica adaptava um microfone comum, forrado com esponjas, a uma vara ou haste de metal ou madeira. Por causa dessa improvisação, ficaram conhecidos por nós como os microfones “varacionais”.

 

Os câmeras-men procuravam detalhes em todos os lugares que podiam, para ser mais criativos. Lembro-me muito bem do William (“Irmão”), do Fred e do Zé Lenir, o mais calmo deles e que às vezes “me emprestava à câmera para eu focalizar algumas imagens, nos momentos em que não estávamos no ar. O Irmão e o Fred se destacavam como bons profissionais. Na verdade eles eram muito bons mesmo. O Fred, bastante dinâmico, se deslocava rapidamente para conseguir os melhores ângulos para as imagens que o suíte (diretor de imagens) solicitava. Por falar em “suíte”, os dois diretores de imagens que mais trabalhavam naquele tempo nos programas em que o Big Brasa participava eram o Dedeco (Aderson Maia) e o Gonzalez, este principalmente no Estúdio 2.

 

Bem, eles nos colocavam “no ar” diversas vezes sem estarmos tocando, em qualquer posição em que estivéssemos de preferência quando a gente não notava que seria focalizado. Em uma brincadeira sem pensar, numa dessas vezes que os câmeras ficavam procurando o que mostrar pelo estúdio o Fred ficou me focalizando um tempão e eu, agachado, que estava prestando atenção ao que estava sendo exibido no programa, não notei. Deu sorte porque minha imagem não tinha ido ainda ao ar. Quando notei o Fred tentando me enquadrar, num ato impulsivo e de pura brincadeira, “dei o dedo” para a câmera. Resultado: depois do programa o Gonzalez desceu da Engenharia, como chamávamos, e me deu uma boa chamada, dizendo ele que quase tinha apertado no botão que levaria aquele gesto para todos os cearenses. E assim somente agora vocês ficam sabendo.

 

O conjunto fazia em média dois ou três números por programa. No decorrer dessa temporada a propaganda que o conjunto conseguiu foi enorme, por aparecer diariamente na TV. As músicas quase sempre eram sucessos do momento, cantadas pelo Edson ou pelo Lucius. Tocávamos temas de improviso e blues, ocasiões em que eu aproveitava para tirar sons de todas as maneiras que sabia na guitarra, fato que contribuiu para minha relativa projeção como guitarrista-solo em Fortaleza.

 

Conseguimos uma boa legião de fãs espalhadas pelo interior do Estado. Todos os dias recebíamos cartas e mais cartas. Umas eram dirigidas ao Conjunto Big Brasa, de um modo geral e outras eram destinadas aos músicos, em particular. Acho que os campeões de correspondência eram o Edson Girão e o Lucius Maia.

 

Ainda hoje mantenho quase todas as cartas que recebi. Muitas delas com fotos e até declarações apaixonadas ou amorosas, com muito carinho e afeto da parte daquelas fãs. Sentia um prazer enorme ao receber cada cartinha daquelas. Andei respondendo muitas, pessoalmente. Depois, pela falta de tempo, contratamos uma amiga que respondia tudo por nós. Tive que fazer uma fotografia minha ao lado do caminhão de transmissões externas do Canal 2 e distribuí mil cópias para o fã-clube do conjunto no interior do Estado. Hoje em dia ainda mantenho estas cartas bem guardadas, pois fazem parte de nossa memória.

 

Ainda sobre fotografias do conjunto, é bom contar que aproveitamos a cena um dia, quando uma pessoa estacionou com um automóvel conversível “Lorena”, em frente ao Canal 2, para resolver algum assunto de seu interesse. Como estávamos aguardando o horário do Estúdio 2 entrar “no ar” chamamos rapidamente o fotógrafo da televisão e fizemos uma pose junto ao tal carro. Foram feitas centenas de fotos e enviadas também para o interior. Isso certamente contribuiu para nossa imagem de conjunto “rico”, mas com o carro dos outros...

 

 

 

 

Tínhamos que inventar novidades. Eu às vezes até abusava dos pedais (distorção e "wah-wah") e brincava com os operadores de câmeras que se aproximavam demais de minha guitarra no intuito de mostrar minha aliança para as fãs do interior.

 

De tão acostumados com as câmeras e com o pessoal do estúdio todo, contrarregras, operadores de microfone, os próprios câmeras-men, a gente se divertia muito. Eu não perdia nenhuma oportunidade de improvisar sobre os temas das músicas que tocávamos. Era uma boa forma de exercitar e também de mostrar para o Ceará inteiro nossas habilidades.

 

Entrevista do Conjunto Big Brasa para fãs

 

 

 

 

No entanto um dia o produtor do programa resolveu abrir mais um espaço para uma entrevista com o conjunto, a pedido das fãs. O entrevistador foi o Flávio Torres. Dirigiu perguntas para o Lucius Maia e para mim sobre nossa atuação em Fortaleza, quis saber se respondíamos as cartas do pessoal. Todas essas entrevistas foram muito bem recebidas por nossas fãs, que as mencionavam em suas cartas. Na foto que temos desta entrevista também aparece a atriz de novelas e apresentadora Karla Peixoto, da TV Ceará.

 

Nota sobre o Conjunto Big Brasa na Wikipédia


“O Big Brasa foi um conjunto musical brasileiro ativo nas décadas de 1960 e 1970 durante a fase da Jovem Guarda. O grupo formou-se no bairro de Messejana, em Fortaleza (Ceará) e seus integrantes fundadores eram: Lucius Maia, Severino Tavares, João Ribeiro, Adalberto Lima, Edson Girão e Luís Antônio Alencar”.

 

“O início da banda deu-se em 1967 e esta permaneceu ativa até 1978. O conjunto musical Big Brasa foi muito popular entre os fortalezenses, principalmente através dos programas Show do Mercantil, semanal, e diário Studio 2, que eram exibidos pela extinta TV Ceará, da Rede Tupi de Televisão. Atuou também em diversos estados nordestinos e em todo o interior do Ceará. O Conjunto Musical Big Brasa acompanhou vários artistas do Pessoal do Ceará, tais como Ednardo e Belchior dentre outros.”

 

 

(*) Sobre o autor: João Ribeiro da Silva Neto é servidor público federal aposentado, tendo servido na Área de Inteligência do governo federal como Analista de Informações (Oficial de Inteligência). Atualmente é diretor, analista de fatos e editorialista do Instituto Portal Messejana, entidade de utilidade pública. Formado em Música pela Universidade Estadual do Ceará foi também o fundador do Conjunto Musical Big Brasa, de Fortaleza, no ano de 1967. Escreve também para o Blog do João Ribeiro e mantém presença nas diversas redes sociais com a página do Conjunto Musical Big Brasa. No início de 2020 gravou o Álbum Momentos, com canções de sua autoria, inéditas, muitas compostas há quarenta anos. Essas músicas foram distribuídas pelo Proaudio Studio nas principais mídias musicais, dentre eles o Spotify, Deezer etc. Escreveu também três livros sobre a Música no Ceará no período da Jovem Guarda, nos quais discorre sobre a Música em sua vida e sobre a participação do Conjunto Musical Big Brasa no cenário musical cearense. As publicações foram lançadas respectivamente em 1999 e em 2017, quando o grupo completou cinquenta anos de fundação. Todas as imagens da série sobre A TV Ceará Canal 2 pertencem ao acervo do Conjunto Musical Big Brasa.

Conjunto Big Brasa – https://www.facebook.com/conjuntobigbrasa 

Blog do João Ribeiro - http://silvanetojr.blogspot.com/

Instituto Portal Messejana - http://www.portalmessejana.com.br/  

 


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