A Jovem Guarda no Ceará

 

Os grandes pioneiros do movimento pop rock dos anos 60 mais tarde foi intitulado de Jovem Guarda, foi a banda Os Rataplans, com César Barreto e seu irmão Barretinho, nas guitarras e na liderança. Fundado em 1964, o grupo se inspirava na banda nacional The Clevers, com o formato guitarra, baixo, bateria e saxofone. As guitarras foram feitas artesanalmente e eram ligadas em amplificadores de potência mínima para os padrões atuais, mas já faziam uma zoada danada para os ouvidos acostumados com as bem comportadas e boleradas bandas de baile de então.

 

Os Rataplans como pioneiros se depararam com a reação Os Rataplans - Adilson, Barretinho, Cesar e Camelode estranheza dos diretores dos clubes, mas em contrapartida com a acolhida da moçada. Com a eclosão do sucesso de nomes chave da Jovem Guarda como os Beatles e Roberto Carlos, as paradas de sucesso passaram a ser comandadas por eles e outros e o movimento foi logo batizado de iê-iê-iê, rótulo modificado e tirado dos vocais dos Beatles - ié,ié,ié.

 

Os Belgas - Eudes, Edson, Ricardo e JúlioLogo outros conjuntos surgiram e curiosamente em cada área ou bairro de Fortaleza. Nomes como The Dangerous, Os Desafinados, Os Quem e os Brasas começaram a se fazer presentes nos clubes, festas familiares, tertúlias e nos shows em colégios femininos, isso por volta de 1965, 1966-67. Os cabelos dos rapazes começaram a crescer e as roupas foram ficando coloridas. O repertório oscilava entre Roberto Carlos, Renato e seus Blue Caps, Os Incríveis, The Fevers, e nos Beatles e Rolling Stones em bandas como Big Brasa, The Belgas, os Quem,  The Dangerous e The Monkeys.

 

Os shows em colégios femininos eram acompanhados pela mesma histeria das meninas dispensada a nomes como os Beatles. Até o interior do Ceará deu a sua contribuição em termos de bandas do estilo - Dissonantes, na cidade de Maranguape, e Monólitos em Quixadá.

 

Logo o mercado de festas e bailes foi ocupado pelos conjuntos de iê-iê-iê, como eram chamados na época, até porque eram mais econômicos, pois com quatro músicos se fazia uma festa, na fórmula básica de duas guitarras, um baixo e uma bateria, e no máximo um cantor a mais. Os teclados vieram depois, e um ou outro grupo botava um piston ou um saxofone na formação, agora a essência básica mesmo era guitarras e voz, e ponto final.

 

Nos anos 60, como já se mencionou, só havia um canal de TV, no Ceará, e ainda assim com transmissão limitada em termos de horário e alcance. Operando em preto e branco, Big Brasa - Lucius, Severino, João RIbeiro, Adalberto e Edsona TV Ceará Canal 2, começava a programação ao cair da tarde nos durante a semana, e um pouco mais cedo aos sábados e domingos. Em uma época sem transmissão em cadeia gerada para todo o Brasil, os programas do Canal 2 consistiam em seriados e noticiários, novelas e programas locais ao vivo, já que nem sistema de gravação de imagem havia.

 

Pois bem, havia um programa na tardinha dos sábados chamado TV Juventude, comandado pelo radialista Paulo Limaverde que revelava novos valores da terra, como dubladores, que eram jovens que faziam mímicas e movimentos labiais em cima de sucessos da época e conjuntos locais de Jovem Guarda que tocavam ao vivo com toda a vontade de ser feliz.

 

Mais tarde a mesma TV Ceará apresentou outros programas voltados para música e atrações, como o “Estúdio 2” e o “Show do Mercantil” com apresentação de Augusto Borges e presença musical do Conjunto Big Brasa. Vale salientar que esses mesmos programas tanto revelaram talentos locais, como trouxeram muitos artistas e bandas de fora.

 

Por outro lado, Fortaleza na época era tida como a cidade dos clubes, muitos deles por sinal extintos hoje em dia. Assim sendo, as bandas de Jovem Guarda encontravam amplo espaço para as suas funções já que o gênero estava em alta no período. Até os clubes elegantes como Líbano, Náutico e Iate, aderiram ao estilo promovendo festas e tertúlias com bandas como The Monkeys e Faraós,Os Faraós e trazendo grupos de fora como Renato e seus Blue Caps e Brazilian Bitles.

 

Fortaleza era assim no período - cada bairro tinha lá seu clubezinho e sua banda de Jovem Guarda, e a juventude prestigiava em massa os eventos com tais grupos, e por vezes havia festivais com dois ou três conjuntos. As vendas de equipamento e instrumentos cresciam em lojas como a Mesbla, o que indicava a eclosão de um movimento que deixou recordações até hoje.

Como num toque mágico, com o final dos anos 60 e adentrando a década seguinte, as bandas de iê-iê-iê foram se transformando em grupos mais diversificados em termos de estilo. A marca de uma época permaneceu, e hoje em dia as bandas de Jovem Guarda continuam o seu desempenho com ampla aceitação, por parte inclusive de outras gerações.

 

Luiz Antônio Alencar - Peninha
Eterno Big Brasa, músico e jornalista.



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