Cine Messejana

Um sonho em preto e branco 

 

Localizado em um prédio monumental com arquitetura do Século XIX, o Cine Messejana foi um ponto obrigatório de convergência da comunidade messejanense, até fechar melancolicamente suas portas no inicio da década de sessenta, justo por conta do advento da televisão.

 

Com sessões diárias das sete às nove da noite, e nos finais de semana com uma sessão extra às cinco da tarde, o Cine Messejana posteriormente se denominou Cine Juventus, pouco antes do seu fechamento.

 

Com a inauguração da TV CEARÁ - Canal 2, em 1960, os aparelhos de TV em preto e branco começaram a ser adquiridos, primeiro por pessoas de posse, já que eram caros no inicio, e posteriormente pela classe media, ate ser popularizado entre todos os segmentos sociais.

 

Televizinhos

 

Com a chegada dos primeiros aparelhos de TV a Messejana, as pessoas passaram a visitar a casa dos amigos que deles dispunham para desfrutar do cinema em casa que como era chamada a emergente novidade tecnológica. Pessoas se apinhavam nas portas e janelas e crianças sentavam no chão da sala de visitas, para acompanhar a programação da TV ceara que começava no início da tarde e encerrava no máximo às onze da noite.

 

A grade de programação da TV Ceará consistia de noticiários, novelas e teleteatro locais, e seriados que chegavam por via aérea já que no inicio dos anos sessenta não havia rede de transmissão nacional.

 

Com isso as pessoas passaram a deixar de pagar ingresso para assistir um filme, para assistir cinema de graça. Esse fenômeno determinou a implosão dos cinemas posteriormente de maneira mais acentuada com as locadoras de vídeo mais tarde.

 

No escurinho do cinema

 

Os casais de namorados, as crianças, e a população de Messejana em geral, prestigiavam o cine Messejana com sua presença constante. Quando acabava a sessão diária já se sabia que eram nove horas da noite, pelo movimento de pessoas vindas do cinema pela rua principal a Padre Pedro de Alencar. Era o toque de recolher, pois como nove horas era considerado tarde, as pessoas recolhiam as cadeiras das calcadas e iam dormir, para acordar de manhã cedo com as músicas sacras e locução do Padre Pereira, vigário local, convidando todo mundo para a primeira missa.

 

A programação do cine Messejana, consistia de filmes nacionais em preto e branco, as tradicionais chanchadas, com enredo em preto e branco, as famosas series americanas também em preto e branco, episódios de ação que sempre acabavam com o mocinho, o artista como chamavam, em perigo, e um ou outro filme de faroeste, romance ou capa e espada. Os filmes coloridos não eram muito freqüentes.

 

Um detalhe curioso, que me foi reportado por uma domestica que trabalhava em minha casa, e que os filmes brasileiros tinham o ingresso mais caro, ou seja, dez cruzeiros, enquanto os filmes estrangeiros são cobravam oito cruzeiros.

 

O prestígio dos filmes nacionais era imenso, pois eram todos designados como aprovado, enquanto as outras categorias de censura eram- impróprio ate dez anos, catorze e dezoito anos. Resultado - a meninada não perdia uma sessão nacional com Oscarito, Grande Otelo, Zé Trindade, Ankito, Eliana, Adelaide Chizzo e Cyll Farney, só para citar alguns nomes.

 

Alguns boêmios quando saíam do cinema ficavam pela pracinha conversando, já que assalto era apenas na tela do cinema mesmo.

 

As duas garapeiras servindo caldo de cana ficavam abertas até tarde, bem como a Boate das Canoas, que posteriormente veio a se tornar o “Tremendão” e em breve a Frigideira Cearense, que preservará o Bar Tremendão como resgate histórico de toda uma época. As crianças e as mulheres ficavam em casa, já que na época, moca decente não podia estar na rua ate tarde, são mesmo em festas e assim mesmo acompanhadas pelos familiares.

 

A noite pertencia em Messejana aos homens adultos, que por vezes faziam serenatas. Com a chegada da televisão, as pessoas saíram das ruas e passaram a ficar confinadas nas salas de visita, o que diminuiu o contato entre as mesmas, já que o lazer partilhado passou gradual e melancolicamente a fazer parte do passado, com a herança tecnológica do individualismo. O Cine Messejana, como outros cineminhas de bairro foram lentamente sendo engolidos por esse processo de insensibilização pelo coletivo.

 

 

Luiz Antonio Alencar (Peninha)
 Eterno Big Brasa, músico e jornalista.



Exibir todas as reportagens e textos sobre Messejana