Ana Maria Militão Porto - a “Nininha” 

 

Nota do Portal Messejana

 

Mais do que uma homenagem é uma forma de reconhecimento ao admirável trabalho desenvolvido por Ana Maria Militão Porto (ou simplesmente “Nininha”, como todos a chamam) em Messejana. Nininha desenvolveu uma carreira profissional brilhante, cheia de realizações e de projetos bem sucedidos. Transmitiu seu conhecimento para centenas de alunos e monitores transformando Messejana em um celeiro musical, resultado de sementes plantadas ao longo de sua vida musical.

 

Nininha nos recebeu de forma carinhosa e pudemos assim recordar passagens musicais e lembrar alguns referenciais que pudemos conviver em nossas atividades musicais. Em um ambiente descontraído conversamos bastante, ouvimos seus relatos de experiências musicais e os sonhos que ela conseguiu realizar como professora e regente de corais. Foram momentos que pudemos descobrir nuances da vida profissional de Nininha ainda desconhecidas para nós. E foi como uma viagem pela História da Música e das Artes.

                                                                                           João Ribeiro e Aliete Lima 

 

 

Ana Maria Militão Porto, conhecida por todos por “Nininha”, simplesmente, é filha de Eduardo Castelo Porto e Diva Militão Porto, de Messejana. Começou a estudar piano no Colégio Santa Rita, em Maranguape. Sua influência musical foi recebida basicamente de suas tias Nair e Lúcia Porto, além de ter herdado dons musicais de sua família.  

 

Começou sua vida artística aos 4 anos de idade, por influência, dom e apoio da família. Aos 7 anos foi para Barra Mansa, Rio de Janeiro, onde esteve em no Colégio Nossa Senhora do Amparo, em regime de internato.  Lá estudou, além de outras matérias, francês e chegou a ser a 1ª aluna de Matemática. Sempre foi e ainda é apaixonada por educação de uma forma geral. Desenvolvia poesias e peças infantis de teatro. Participava e assistia muitos corais. Em Barra Mansa houve uma contribuição grande para seu desenvolvimento musical. De 7 a 15 anos Nininha pode construir de forma sólida sua formação e base artística musical. Nininha, apesar dos seus estudos no Rio de Janeiro, não perdia as férias em Fortaleza (Messejana), nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, quando voltava para o seio de sua família.

 

Por volta dos 17 anos retornou à vida escolar em Maranguape e lá continuou seus estudos de piano com a professora Maria José Gurgel. Paralelamente ministrava aulas de matemática para alunos particulares em Messejana.

 

O PIANO DA VIDA DE NININHA E SUA FORMAÇÃO MUSICAL

 

Aos 21 anos conseguiu adquirir seu próprio piano, da marca Essenfelder, que mantém até hoje em excelente estado de conservação. Morando em Messejana, sua vida era totalmente envolvida com a Educação e com a Música. Tinha muitos alunos particulares e as famílias de Messejana a procuravam para lecionar matemática e português. Gostava muito de ensinar Português por influência de seu pai, que era professor da matéria.

 

Posteriormente prestou vestibular para Música, muito embora gostasse de Medicina. No final do cursinho preparatório fez sua opção de carreira e ingressou no Conservatório Alberto Nepomuceno. Tirou o primeiro lugar no Curso de Música. Ao final do Curso de Música, já formada, passou a lecionar no próprio Conservatório, por três anos.

 

A CARREIRA PROFISSIONAL E O CANTO CORAL

 

Recém formada no Conservatório Alberto Nepomuceno foi de imediato contratada pela Secretaria de Educação do Estado (SEDUC) para dar aulas de Educação Artística no Instituto de Educação e na Escola José de Barcelos, em Messejana.

 

A IDÉIA DA FORMAÇÃO DE CORAIS

 

Nesse período despertou a vontade de fazer com que outras pessoas conhecessem a linguagem musical e pensou que a formação de corais seria uma saída para o desenvolvimento musical da juventude, ainda mais por não precisar de grandes investimentos para a formação dos alunos. 

 

O primeiro Coral Jovem a ser formado foi em 1972, na Escola José de Barcelos, seguido pelo Coral da Escola José de Alencar, em 1974.  Nas escolas, a princípio as atividades dos corais eram extracurriculares, sendo que, após terem sua importância devidamente reconhecidas, vieram a ser implantadas na grade escolar.

 

UM FATO MARCANTE

 

Por ocasião da solenidade de inauguração da Escola Paulo Benevides Nininha apresentou seus dois Corais para o Governador do Estado, Secretário de Educação e demais autoridades ligadas à Educação. E o Governador gostou muito dessa apresentação.  Naquela oportunidade Nininha dirigiu-se diretamente ao governador e apresentou-se, dizendo seu maior desejo: “eu sou formada em Música, gostaria de dedicar integralmente à Música, na formação de corais em Messejana, desse modo poderia ficar a disposição desse trabalho”. E o governador disse que iria atender a seu pleito.

 

No outro dia cobrou a promessa e, de fato e de direito saiu definitivamente das salas de aula para dedicar-se de forma total à formação dos Corais. Formou ainda um coral em uma das escolas municipais de Messejana. Com a saída de Nininha da Escola José de Barcelos assumiu em seu lugar, a recém-formada em Educação Artística no Conservatório Alberto Nepomuceno, Aliete Lima e Silva, que passou 25 anos dedicada à Escola José de Barcelos e hoje, também aposentada como professora e hoje dirige o Portal Messejana.

 

No final desse período, com a criação dos Corais em Messejana, independente de ser o Coral do Estado ou do Município, surgiu a idéia da criação de um Centro de Convivência, que veio a se chamar Pólo de Música de Messejana. As idéias fluíam da própria Nininha e de seus amigos professores contratados para o Pólo, como Eunice Rocha (flauta), Tarcísio Lima (violão) e Elvira Drummond (musicalização).

 

Para Nininha uma de suas maiores realizações profissionais foi esta, tendo em vista que do Pólo de Música foram brotando novos regentes e professores, um celeiro musical estava criado.

 

A INFÂNCIA E A JUVENTUDE CANTANTE DE MESSEJANA

 

Do Pólo de Música, com o seu incentivo e o apoio e coordenação de amigos, levava os corais infantis a participar de encontros de corais em outras capitais do nordeste. Assim, a infância e a juventude de Messejana participaram de forma importante do desenvolvimento musical de sua geração.

 

Mais tarde, por entraves burocráticos, administrativos e políticos, o sonho do Centro de Convivência – Pólo de Música - foi usurpado, segundo Nininha,

 

AGRADECIMENTOS

 

Na época toda a juventude de Messejana freqüentava a residência do Dr. Carlos Pompeu, às margens da Lagoa de Messejana. Em uma das vezes seu problema foi notado pelo Dr. Pompeu que se prontificou a atendê-la. Nininha passou por uma cirurgia reparadora na mandíbula, por conta e por apoio integral do Dr. Carlos Pompeu (cirurgião-dentista) e D. Germana. Nininha fez questão de destacar que é eternamente agradecida ao casal.

 

É importante destacar que Nininha é também eternamente agradecida a todos os seus mestres e aos seus alunos pela convivência. Na época o Pólo de Música funcionava onde hoje está instala a Secretaria Regional VI da Prefeitura Municipal de Fortaleza. Em vários momentos Nininha enfatizou essa gratidão que tem por todos aqueles que conviveram com ela em sua carreira profissional e aos que depois das práticas em corais e em regência vieram a se formar e a ampliar seus estudos, contribuindo de forma significativa para a essência musical de nosso povo, da comunidade.

 

O FINAL DO PÓLO DE MÚSICA

 

Foram literalmente expulsos do prédio onde funcionava o Pólo. Com a saída do prédio pelos problemas referidos pode-se dizer que foi o final do Pólo de Música em Messejana.

 

Mas desse final sobreviveu o ideal de Nininha. Então, com seu trabalho continuou a formar corais, desta vez em toda a periferia de Fortaleza. A idéia estava assim ampliada, portanto.

 

O PROJETO “UM CANTO EM CADA CANTO”

 

Este foi o nome do projeto desenvolvido por Nininha, com o apoio de Violeta Arraes e Paulo Abel.  Nesse projeto, que foi pouco a pouco se desenvolvendo, foram criados cerca de 240 corais infantis em todo o Estado do Ceará.

 

Diz Nininha sobre as crianças e os jovens, que “eles reportavam suas alegrias e tristezas, que eram sempre compartilhadas pelo grupo”, o que lhe traz lembranças inesquecíveis.

 

Do projeto Um Canto em cada Canto surgiu o livro Lições do Caminho, que em sua apresentação, destaca:

 

“Surgida como um movimento musical jovem de um bairro de Fortaleza – Messejana – que se nucleava em torno da regente Ana Maria Militão Porto (Nininha), a Associação de Corais Infantis Um Canto em cada Canto – ACIC – hoje conta com vinte e cinco corais na capital e cerca de trezentos corais no interior do Ceará. Dedicada à arte e a Educação de crianças de classes populares, possui uma história e um acervo de teorias e práticas com corais infantis de inegável valor.

 

Vinculada ao movimento social, a ACIC tem se construído, desde sua origem, em outubro de 1988, com a riqueza das diversidades de pensamentos da cultura popular junto aos saberes sistematizados em arte e educação – em especial aqueles que têm seu desenho em música, ligado ao canto coral para a infância...”  

 

Um Canto em cada Canto existe há 20 anos e atualmente veio a se tornar uma ONG (Organização não Governamental), em virtude de seu desenvolvimento.

 

OUTRA REALIZAÇÃO

 

Nininha lembra que uma de suas realizações foi a de trabalhar canto coral com os operários que fizeram a reconstrução do Theatro José de Alencar, no qual conseguiu formar um coral com a participação de 96 participantes.

 

CURSOS, SEMINÁRIOS E PALESTRAS

 

Ana Maria Militão participou de inúmeros eventos pelo Brasil inteiro, tais como cursos, seminários, encontros de corais e encontro de Regentes.

Nininha é convidada freqüentemente para palestras sobre educação musical. Em sua carreira proferiu inúmeras palestras em organizações diversas, todas voltadas para a Música e a Educação Musical.

 

MISSA DE AÇÃO DE GRAÇAS

 

Em 2002, como homenagem por seu aniversário de 60 anos, a Associação de Corais Infantis – Um Canto em cada Canto – ofereceu a Nininha uma Missa de Ação de Graças. O texto introdutório, escrito pela professora Ângela Linhares, entre outras considerações diz:

 

“Messejana, como um trem vivo, sobrevivente, apontando as tarefas e o amor pela infância... Mistura-se com seu nome. Ah, Nininha! De quantos pianos se fazem os sons dessa música doce que me viaja e traz teu nome feito um pássaro! Voa pássaro da infância! Mas traz de volta, sempre e ainda, a nossa Nininha!

 

Éramos vinte, trinta... Hoje somos milhares, que no estado inteiro repartem o amor febril pelos sonhos da infância possível. Um Canto em cada Canto é o signo de uma luta. Traz teu nome, lembrança, presença viva, no agora que fazemos o futuro. Um Canto em cada Canto, Nininha, traz teu beijo, teu aviso, tua mão pássara, vidente, arrebatando os sons cheios de quintais e unindo-os com as mãos em concha... No futuro que agora fazemos com mãos e música, esse que aprendemos contigo, certamente levaremos teu nome como canção. Veja messejanense falando, nós te amamos muito!”

 

UM POUCO DE ARREPENDIMENTO

 

Revelou que sente um pouco de arrependimento ao longo de sua carreira profissional por ter sido muito severa para com seus alunos. Segundo ela hoje faria um pouco diferente, de forma mais suave. Toda a riqueza desse convívio que faz até hoje literalmente a fez chorar e ter uma recordação doce, muito terna, saudades e emoções, porque “eles eram tão bons” E por que eu brigava tanto com eles?

 

VIAGENS

 

Um de seus sonhos sempre foi viajar. E o fez diversas vezes, conhecendo boa parte do mundo, o que certamente a ajudou em sua cultura geral e artística.  Possui álbuns de todas as suas viagens e guarda as fotografias com muito carinho e organização. Mas faz questão de mostrar apenas aquelas ligadas a seu trabalho, pois são as que mais lhe trazem recordações fortes e boas lembranças.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Ao final de sua conversa com a equipe do Portal Messejana, em seu aconchegante apartamento nos mostrou sua coleção de miniaturas de casas de diversos lugares, adquiridas em suas viagens e também presenteadas por seus amigos. Diz que cada casinha representa para ela um sonho realizado, onde cada uma delas é um professor, um aluno, um monitor, um amigo. E nos surpreendeu ao cantar uma das maravilhosas canções, cuja partitura está no livro do Projeto, intitulada Ciranda dos Amores ciranda

 

E concluiu enfatizando que em todas as suas atividades sempre valorizou a participação de todos frisando que “ninguém faz nada sozinho, o envolvimento a dedicação de todos são fatores importantes para o sucesso de cada empreendimento”. Uma lição de convivência, de participação, de estudo e de dedicação à música e às artes.

 

 


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