O primeiro pedal tipo "wah-wah"

de Fortaleza

 


O Conjunto Musical Big Brasa, de Messejana, sempre procurou criar um diferencial, fazer inovações. Por exemplo, o Big Brasa foi o primeiro conjunto de Fortaleza a usar o pedal conhecido como “wah-wah”. Seu guitarrista João Ribeiro (Beiró) tinha visto esse tipo de pedal em um filme e apreciei muito os efeitos que produzia. Logo fizeram a aquisição do tal “aparelho” em São Paulo, pois em Fortaleza “nem pensar” naquela época doa Anos 60/70. O Big Brasa inaugurou o “wah-wah” durante todo o Festival Nordestino da Música Popular, realizado no Náutico Atlético Cearense, que teve como vencedora a música Beira-Mar, do cantor e compositor Ednardo. Ligado à guitarra-solo produzia sons diferentes e foi motivo de admiração. Algumas pessoas chegavam a ficar com a boca fazendo o movimento correspondente ao “wah-wah”.

 

Ao longo de sua carreira como guitarrista-solo o “Beiró” usou várias marcas de pedais desse tipo. Sua característica, para quem é leigo ou não conhece esse pedal de efeito, é a de possibilitar a que o músico alterne rapidamente, através de movimento com o pé, um som agudo para um grave ou vice-versa, produzindo efeitos espetaculares. Daí o nome desse pedal ser “wah-wah”.

 

 

Diz o guitarrista Beiró em seu livro “O Big Brasa e Minha Vida Musical”:

 

“ - Tive umas quatro ou cinco guitarras durante a existência do Big Brasa. Cuidava muito bem delas, como até hoje tenho zelo por tudo que possuo. O músico que se preza tem que tratar bem seu instrumento, conservando-o sempre da melhor maneira possível. Uma dessas guitarras, a que mais gostava, chegando mesmo a “conversar” com ela às vezes, foi uma “Supersonic”, fabricada pela Gianinni. No princípio eu a usei por algum tempo sem modificação nenhuma. Essa guitarra possuía uma característica importante para um solista. Com ela eu conseguia utilizar a alavanca diversas vezes sem que ela perdesse a afinação (para quem é músico fica fácil entender).

 

Nos improvisos em rocks e blues isso era fundamental. Mesmo assim, um dia resolvi dar uma melhorada nela, em suas formas e em seu som. Desmontei-a por inteiro, inclusive seus componentes eletrônicos, como os três captadores de som, sistema de alavanca, molas, cavalete, braço e tudo. Ao final estava completamente desmontada. Eu olhava para as peças e pensava: será que vai dar certo?

 

Com uma pequena serra e depois lixas, cortei um pouco suas formas de modo a que ficasse parecida com uma “Gibson”, uma das melhores marcas do mundo. Depois começou a parte dos acabamentos. Apliquei massa como se faz numa pintura de automóvel, no sentido de laqueá-la. Adquiri um novo conjunto de captadores e escolhi um deles em substituição a um dos originais, por ter uma sonoridade bem interessante. Andei mexendo um pouquinho nos pequenos circuitos dos controles de graves e agudos, acrescentando ou modificando, na base da experimentação mesmo, alguns capacitores (componentes eletrônicos que, dependendo de onde são usados, alteram o som). A pintura, de branco, foi à pistola, com um cuidado todo especial. Ficou muito legal, parecendo até mesmo “de fábrica”. Passei então à fase crítica da montagem, para que ficasse afinando normalmente e conseguindo as “oitavas” numa boa. Com um encordoamento “zerado”, não lembro a marca, comecei a testar a “nova” guitarra. Deu certo! Estava com uma verdadeira “Gibson”, home-made, que me serviu por muito tempo e que até hoje me traz ótimas recordações".  

Por João Ribeiro (Beiró)
Extraído do livro O Big Brasa e Minha Vida Musical (1999).

 



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