Anãozinho filho de uma égua !

 

 

 

Certa vez, o Big Brasa foi contratado para tocar uma festa junina em uma localidade chamada Horizonte, a 38 quilômetros de Fortaleza, na BR-116. O conjunto tinha repertório suficiente para esse tipo de festa. Tudo estava legal menos eu, que tinha pegado uma gripe daquelas, fortíssima, com direito a muita coriza... Nada agradável portanto, mas nossa vida sempre foi assim. Trabalho era trabalho e não adiantava reclamar. E assim seguimos para Horizonte, em um sábado, depois de nos apresentar no programa Show do Mercantil.

 

O local onde o Big Brasa iria se apresentar era um pátio de um colégio, em frente a uma pequena quadra cimentada, muito limpa e bem varrida, mas com as mesas em volta, na areia. Tudo muito simples, do jeito que eu gosto. Boa organização, a quadra toda enfeitada de bandeirinhas típicas de festa junina, venda de churrasquinhos de “carne de gato”, aqueles depósitos de isopor cheios de cerveja e o pessoal todo muito animado para a festança.

 

Começamos a tocar. O forró “no mundo” e a turma dançando sem parar, uma maravilha! Mas à proporção que a festa ia animando, a poeira também ia subindo, trazida para a quadra pelos dançantes. Era um poeiral lascado. Conforme disse, nessa noite eu estava muito gripado, com o nariz escorrendo bastante feito uma cachoeira. Molhava um lenço atrás do outro. Minha “técnica” era a de colocar os lenços molhados para enxugar, atrás do amplificador de minha guitarra. Em pouco tempo eles ficavam prontos para uso de novo. E tome mais forró, e o João Ribeiro tome a espirrar... Com o tempo a situação começou a piorar, fiquei com os olhos ardendo muito, o nariz “em chamas”, tudo muito ruim. Era difícil manter o mesmo nível de controle do grupo naquela situação, no que se refere ao roteiro das músicas, pela falta de concentração de minha parte em virtude daquela “agonia” no nariz.

 

Horas depois, notamos um pequeno tumulto no meio da quadra de dança, possivelmente uma briga qualquer. Observamos mais atentamente e notamos que dois soldados de polícia estavam levando um anão para fora da quadra. Sabem por que? Soubemos depois que aquele safado tinha colocado pimenta em pó, no bolso, e saído espalhando-a pelo salão, apenas por pura brincadeira. Aquela pimenta, com a poeira subindo, fazia um efeito tremendo. Via-se todo mundo reclamar de coceira por toda a parte. Uma verdadeira “beleza”. Foi uma bela sacanagem, mas o tal anãozinho deve ter pago bem caro por ela.

 

João Ribeiro da Silva Neto

Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999) 



Exibir capĂ­tulos do livro sobre o Conjunto Big Brasa