O estilo de repertório

 

 

 

O Conjunto Big Brasa sempre teve um repertório variado, que atendesse à maioria. Tocava músicas de muitos estilos, sendo preferencialmente um conjunto de iê-iê-iê, ritmo quente no movimento que constituiu a Jovem Guarda. Mas quando tocávamos no interior, tínhamos que estar preparados para tocar de tudo. Xotes, forrós, sambas, boleros, mambos e valsas. O que desse e viesse...

 

Quando você está em algum baile e observa os conjuntos musicais mudarem de uma música para outra, sem interrupções bruscas, como se tudo fosse automático, certamente existe um planejamento criterioso ou então muita prática para que isso ocorra. O roteiro musical escrito serve, principalmente, para que o líder do grupo possa lembrar todas as músicas disponíveis no repertório, evitando assim o chamado “branco de memória”, tão comum de acontecer para quem está tocando. Por isso mesmo, para qualquer das funções musicais que o Big Brasa fosse participar, o roteiro das músicas, por escrito, sempre foi peça fundamental.

 

A responsabilidade pela seqüência das músicas a serem tocadas era minha, assim como a de avisar a todos os músicos no palco qual seria a música seguinte. Uma preocupação a mais, além de tocar o próprio instrumento. Com a prática, sabíamos mais ou menos a ordem como as músicas deveriam ir sendo tocadas. A gente estabelecia, para facilitar, sinais ou gestos que representavam uma determinada música ou uma seqüência previamente ensaiada. Nesses roteiros, muitas músicas não figuravam com seus nomes corretos. E outras vezes nem chegávamos a saber o nome real da música, sendo muito fácil a gente encontrar em um repertório, músicas como “Rapado em Fá”, “Rita Lee nova”, “Tema Seis”, dentre outras denominações. Portanto, eu procurava organizar o repertório de uma forma que as músicas iniciais fossem leves. E seguia depois, gradativamente, até a uma grande animação, que poderia ser obtida tanto com rocks, sambas ou forrós. No meio dos bailes, tocávamos músicas lentas por um bom tempo, para o descanso geral e para a dança colada, a verdadeira hora do “amasso”. Depois o conjunto chegava a “temperatura máxima” de novo, para fazer um intervalo, de trinta minutos, com a festa no auge. Após a pausa, entrávamos quase sempre como no começo e terminávamos o baile com todas as músicas mais animadas do repertório, para fechar “com chave de ouro”. Isso tudo dependia muito do local e do público onde estávamos nos apresentando. A seqüência do repertório, na realidade, não era rígida. Essa flexibilidade significava quebrar a ordem determinada pelo roteiro para atender a um pedido ou solicitação de alguém, desde que a mudança não atrapalhasse o ritmo da festa. Quem tinha essa função, não estava livre de erros. Uma escolha de música, feita de modo errado, podia esvaziar o salão repentinamente.

 

Guardei até hoje muitos roteiros usados pelo Big Brasa em seu repertório. Quem participou do conjunto deverá lembrar, com certeza, de algumas das seguintes músicas, as quais estão transcritas como foram grafadas na época e em ordem alfabética:

 

 

A Candinha  - A Distância - A Little Bit Me - Além de Tudo - All My Love For You - Assim falou Zaratustra  - Baiana - Be My Lover  - Beautiful You - Because I Love You

Ben - Besame Mucho - Black Power - Blue Suede Shoes - Boys  -Bridge Over Touble Water –Carimbós - Cavalo Ferro – Chililique - Chuva, suor e cerveja - Cold Turkey

Colírio - Como vai você - Contos de Areia – Cubanacan - Day Tripper - De noite na cama - Deep Purple – Desacato – Diana - Dia dos Santos Reis - Dizzy miss lizzy

Don’t say goodbye - Duzentas Milhas - É onda -  Eu bebo sim - Everything I Own - Evil Ways - Fellings  - Fio Maravilha - Forever and Ever - Garota de Ipanema - Green Piper

Guajira - Hello Dolly - Hey amigo - Hey Girl - I Saw Her Standing There - I’m going home - Imagine - In-agada-da-vida - Jumpin Jack Flash - Killing me softly - Lado direito

Last time – Listen - Live love maid - Ma Cherie Amour – Magia  Maxixe -  Me deixa em paz – Moments - Moon River - Mother’s Daughter - Mrs. Robinson - Music and me

Namoradinha - Nega de Obaluaê -  Noites de Moscou - Not a second time - Nothing Else - O amor é a razão - O que é bom tá guardado - O show já terminou - Oh me Oh my

One Day in Your Life - Only You - Oye come vá – Paraíba – Paramaribo - Pau-de-Arara - Pisa na Barata - Porta Aberta - Por amor / Michelle - Preta, pretinha - Quantas Lágrimas - Rapados em si bemol - Rita Jipe - Salve Nossa Senhora - Samba de verão - Samba pa ti - See me, feel me - Silêncio da Madrugada - Skyline Pigeon - Slow Down

So lucky - Só o amor constrói – Summertime - Susie “Q” - Tell me Once Again - Tema de Marylin - Tema do Aeroporto - That’s What I Want - Traces  - Tutti Frutti - Under my Thumb - Vô batê pa tu / Urubu - Vou Recomeçar - Xaxado  - Xodó - You are the sunshine - Zazueira

 

-      A inclusão de músicas antigas no repertório

 

Outra novidade que apresentávamos desde o início do conjunto, por sugestão de meu pai, foi a inclusão de músicas antigas com ritmos e arranjos modernos. “Peguei um Ita no Norte” iniciava uma das seqüências. O pessoal do conjunto não vibrava muito com isso, mas na verdade causou grande sucesso. Essa fórmula posteriormente foi - e ainda está sendo até hoje - utilizada por inúmeros artistas, cantores e grupos musicais.

 

-      Idéia excelente, dificuldade para a execução

 

O Mestre Alberto tentou inovar mais uma vez, através da idéia de apresentar “slides” com o título de cada música do repertório, que seriam  projetados no palco durante as festas. Desse modo o público ficaria vendo a projeção do nome das músicas tocadas.

 

A seqüência desses “slides” seria a mesma que a do repertório. Excelente idéia mas muito onerosa e de execução difícil, por isso mesmo deixou de ser implantada. Ele próprio, no intuito de melhor organizar o repertório, chegou a datilografar fichas para cada música, como em um arquivo, catalogando mais de 200 títulos de diversos estilos.

 

Vejam vocês que tudo isso ocorreu por volta de 1967 a 1969, quando nem se pensava em programas de computadores capazes de fazer apresentações magníficas, telões, “data-show” e demais recursos tecnológicos da atualidade.

 

Outra tentativa de meu pai foi a de gravar todas as músicas tocadas durante os eventos. Mais uma vez a falta de recursos financeiros de nossa parte e também de tecnologia. Ainda não tínhamos os gravadores de fita cassete. O gravador que ele usava, funcionava com fitas de rolo e possuía um mecanismo muito problemático. Além disso as gravações tinham que ser feitas nos palcos, com o som ambiente, pois não se utilizava naquele tempo recursos como saídas de áudio em linha dos amplificadores ou mesas de som.

 

Fitas de vídeo, nem pensar. Conhecemos o videoteipe mais ou menos em 1971, com as antigas máquinas de videoteipe da TV Ceará, também com fitas enormes. Acho até que nem existem registros em vídeo dessa emissora. Os programas gravados num dia era apagados pouco tempo depois, com novas gravações, pela necessidade de reutilização das fitas.

 

João Ribeiro da Silva Neto

Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)



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