Escolas particulares saem na frente

 

 

 

Com o uso do Enem na seleção da UFC, as escolas precisaram se adaptar. Enquanto o ensino particular investe em capacitação e reformulação do material do pré-vestibular, boa parte da rede pública ainda nem começou o ano letivo de 2010

 

O vestibular da maior universidade do Estado mudou. Por isso, o ensino médio também está se transformando. Depois de a Universidade Federal do Ceará (UFC) ter decidido adotar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como fase única no seu processo seletivo, as escolas estão alterando sua metodologia de ensino, focalizando a abordagem prevista no Enem. O problema é que as mudanças não acontecem do mesmo modo nas instituições públicas e particulares.

 

Enquanto escolas particulares seguem na frente capacitando professores com profissionais experientes no assunto Enem e já trabalham as questões em sala de aula, as escolas públicas ainda estão na fase de planejamento. Em muitas delas, por conta da greve dos professores da rede estadual, no ano passado, o ano letivo de 2010 só começa em abril. Nas escolas particulares, as aulas tiveram início em fevereiro.

 

Em comum nas duas redes de ensino: não existem mais aulas específicas no pré-vestibular, a carga horária teve de ser modificada e as aulas ganharam roupagem diferentes, mais contextualizadas, com mais ênfase na leitura e na interpretação. Tudo baseado nas habilidades e competências exigidas no Enem.

 

Na Escola de Ensino Fundamental e Médio Adauto Bezerra, no Bairro de Fátima, o planejamento começou, acompanhado de uma revisão completa do ensino médio. Uma das ideias é que, a partir do 1º ano, os alunos já comecem a ver questões “modelo Enem”. Os professores têm feito uma análise das provas anteriores do Enem, listando o que predomina para, então, elaborar o material. “A apostila do 3º ano será específica só para o Enem”, cita o diretor da escola, Humberto Mendes.

 

Ele reconhece que os professores se dedicam muito à motivação dos alunos do pré-vestibular. Mas admite que uma formação desses profissionais, dada pela Secretaria da Educação, “seria muito bem-vinda”. A leitura e a interpretação, antes arraigadas somente à língua portuguesa, serão diluídas também nas outras disciplinas. Questões de química, por exemplo, serão resolvidas durante a aula de português. As provas parciais serão elaboradas obedecendo ao mesmo padrão, adianta o diretor da escola. Tudo no futuro.

 

A diretora da Escola de Ensino Fundamental e Médio Paulo VI, que é uma escola profissional, afirma que a instituição “está em um processo iniciante de mudança, que ainda deixa a desejar”. Corina Bastos Bitu informa que, todo mês, coordenadores de área passam por um curso que orienta a formular questões, mas os professores se baseiam muito nas apostilas de escolas particulares e em provas de concursos. “A escola (Paulo VI) sedia muito concurso. Tem concurso de quase tudo, quase todo fim de semana. A gente fica com as provas remanescentes, com apostilas de colégios...”, cita ela. É nesse material que a escola se baseia a fim de elaborar as atividades para os alunos.

 

Corina ressalta que uma revolução precisa ser feita no ensino. E descreve: “Algumas provas estão muitas sem lógica, sem levar o aluno a raciocinar. Precisa estar mais contextualizada”. Por isso, o trabalho fica com cada professor, que vai pesquisando o melhor jeito de elaborar um teste diferente. Se estão no caminho certo? “Tentando, tentando. Ainda tem muito chão”, responde a diretora.

 

No colégio 7 de Setembro, em seis meses, todo o material foi mudado, lembra o supervisor-geral, Sílvio Mota. Um planejamento e um curso de formação para toda a equipe foram feitos no primeiro semestre do ano passado.

 

Professores da escola têm passado agora por uma capacitação com professores de Santa Catarina para estudar a Teoria da Resposta ao Item (TRI), baseada em uma escala de medição das habilidades. A equipe será capacitada para avaliar os simulados.

 

A elaboração do material tem sido feita por professores do 1º e do 2º anos do ensino médio. “O perfil do professor tem que mudar. A ideia agora é argumentar, discutir, trocar ideias”, sintetiza Sílvio Mota.

 

No Farias Brito, 60% das questões da apostila são modelo Enem. As outras contemplam o modelo de outras instituições, aponta o diretor do Pré-Vestibular Central, Jorge Cruz. A carga horária também teve de ser modificada. A partir do 2º ano do ensino médio, os alunos estudam inglês e espanhol.

 

O colégio também trouxe a professora Maria Inês Fini para conversar com a equipe de professores. Maria Inês ajudou a criar o Enem na década de 1990.

 

No Nossa Senhora das Graças, não são apenas as formas de avaliação que serão mudadas, mas também o planejamento das aulas. Segundo o colégio, as atividades pedagógicas, da educação infantil ao ensino médio, sempre buscaram a interdisciplinaridade. Desde cedo, os alunos têm calendário de aulas de campo multidisciplinares.

 

Como era Antes Do Enem

 

Aulas específicas de acordo com o curso pretendido

Uso de apostilas baseadas nas questões do vestibular da UFC

Provas simuladas modelo vestibular da UFC

Questões de disciplinas distintas, trabalhadas isoladamente

Questões que necessitem do uso de fórmulas e memorização

Questões que cobravam conhecimento do conteúdo

Aulas tradicionais

Regionalismo

 

Como é a partir de agora

 

Aulas de aprofundamento com resolução de questões do Enem

Reformulação do material com questões modelo Enem

Simulado modelo Enem

 

Questões que desenvolvam a interdisciplinaridade, ou seja, o envolvimento de várias disciplinas

 

Questões que incitem a capacidade de raciocinar, ler e interpretar

Questões que cobram aplicação do conhecimento

Aulas com nova metodologia, nova abordagem (uso de filmes)

Regionalidade

 

 



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