Sobre a(s) história(s) que contam sobre Messejana

 

 

Uma nota em respeito à verdade dos fatos.

 

Infelizmente a história de Messejana está sendo no mínimo desrespeitada, por algumas vozes que tentam de toda maneira colocar em confusão as páginas que registram a construção de nossa cultura e cotidiano.

 

O ato de defender uma tese é dever de cada um quando essa tese está baseada em fatos e não em simples conjecturas de cunho pessoal. Fazer isso é desrespeitar o trabalho científico realizado com a intenção de esclarecer e não de impor uma verdade.

 

No caso de Messejana, não se pode negar a passagem de Padres Jesuítas no início do século 17, na região onde hoje conhecemos como Messejana, e não exatamente no centro. Contudo, não se pode colocar como verdade absoluta, por exemplo, datas exatas, pois existem diversos estudos que apontam para informações diferentes, falando de 1605, 1607 e 1608. Nesse caso, reafirma-se a ideia que tentar defender algumas das datas como verdade é mais prejudicial do que benéfico.

 

Outro problema é o de tentar estabelecer como fundação de Messejana, o momento da passagem dos Padres Francisco Pinto e Luís Figueiras (que em alguns registros aparece como sobrenome de Serqueira) e instituir, simplesmente como fundador o primeiro. Temos de levar em conta que tivemos a presença de dois clérigos. Qual a importância do Padre Luís Figueiras? A medida que se defende apenas a influência do Padre Pinto e esquece-se a figura do outro Padre, esse erro demonstra a fragilidade e a tentativa sistemática de se criar e não de se revelar a história.

 

Observe-se o projeto de instituição de uma lenda ao se defender como verdade a origem do nome Paupina como corruptela do nome do Padre Pinto, afirmado que os autóctones, nativos chamados índios pela história, o chamavam de Pai Pinto, evoluindo para Pai Pina e depois Paupina. Atentem para os fatos históricos: Na versão mais crível sobre a passagem dos Padres pela região onde hoje é conhecida como Messejana, os mesmos também se deslocaram até onde conhecemos como Parangaba em um período de poucos meses.

 

Os mesmos vinham acompanhados de uma comitiva de 40 ou 70 índios (dependendo do estudo). Primeiro deve-se se questionar se os índios que á acompanhavam os religiosos á não o chamavam de “Pay – Pina”, que em língua geral tupi quer dizer “Frade Leigo” que poderia também estar se referindo ao outro Padre e não só ao Padre Pinto. Contudo, é fato que “Pay” na língua nativa é Pai, Senhor, Padre como também a expressão “Abaré” pode representar o ultimo termo. O problema é que a expressão “Pina” sozinha significa Limpa, descoberta.

 

Perceba-se agora seguinte fato: Campina Grande, na Paraíba, era também conhecida como Paupina e, pelo menos por este que escreve, não foi encontrado nenhum registro que o Padre Pinto tenha passado por lá. Existe uma expressão, Ypaupina no dialeto usado pelos Potiguaras que habitavam o litoral do Nordeste e que ocupavam a região que hoje conhecemos como Messejana que significa, vejam bem, “Lagoa Descoberta ou Limpa”. Aos moradores que amam Messejana, o que é de mais bonito e simbólico representa Messejana: Uma Lagoa.

 

Lagoa desse tipo que também existe hoje na localidade conhecida como Paupina. Enfim, para arrematar essa discussão, contam os registros que os nativos chamavam o Padre Pinto de “Amainara” expressão da língua dos índios para “Senhor que traz a chuva ou senhor bondoso”. Ora, ou decide-se se os índios chamavam de Pai pina ou Amainara. Se de Pai Pina que significa Frade Leigo, isso iria contra a verdade dos fatos e da história que diz que o dito Padre era um estudioso da língua e por isso sua importância inconteste no processo de comunhão das culturas. De leigo Padre Pinto não tinha nada, na acepção da palavra, sem falar que essa versão despreza a figura do Padre Luís Figueiras.

 

Outro erro ou desleixo é levar em conta que Aldeia é uma expressão eminentemente ligada a questão dos povoamentos de índios. Na verdade o título de Aldeia é ocidental, introduzido pelos colonizadores. Na Europa, pequenas comunidades ainda são conhecidas como aldeias e a população não é formada por índios.

 

Em 18 de março de 1663, a Coroa Portuguesa, administradora do Brasil, sua colônia a época, vislumbrando uma pacificação das relações entre nativos e colonizadores, reconhece não só esta, mas muitos outros, como Aldeia, denominação administrativa já mencionada acima, instituindo para o povoamento por aqui existente de “Aldeia de São Sebastião da Paupina”. Por que não colocar do Padre Pinto? Enfim, essa medida criou mecanismos que garantiram direitos aos índios como a garantia de terras, por exemplo.

 

Em 1758, a mesma Coroa Portuguesa convida a Companhia de Jesus a se retirar da colônia para que fosse instituído um modelo de administração que fizesse o Brasil evoluir. Nesse período se registravam desrespeitos aos índios por parte de religiosos e colonos. O Rei de Portugal então cria Vilas onde existiam Aldeias e é necessário fazer um esclarecimento: A Aldeia de São Sebastião, não deixou de existir na letra da lei, pois essa caracterização garantia o direito aos índios, o acesso a terra. Em 1º de janeiro de 1760, é verdadeiramente fundada a Vila Nova Real de Messejana da América, sem que deixe de existir a Aldeia que só será extinta em 1850 com a criação da Lei de Terras, em uma artimanha para fazer se esfacelar o direito dos índios.

 

Vamos ao nome Messejana. Uma comunidade precisa conhecer seus símbolos e o nome é um dos principais. Sendo objetivo, Messejana não significa “Missão ao Luar” como querem alguns ou “Lagoa Abandonada” como defende José de Alencar em sua obra. Messejana é advêm de um termo Árabe, Sajana, que quer dizer “Lugar Fortificado” ou “Cárcere”. Por romantismo podem até defender outras teorias se apegando a influencia lusófona ou coisa assim. Contudo, é preciso salientar que nosso colonizador português, em sua terra-natal, sofreu julgo dos povos árabes por muito tempo. Talvez por desconhecimento ou desleixo de alguns pesquisadores, não se conheça o fato de existir uma Messejana em Portugal que registra em sua história a explicação de origem moura do nome. Contudo, cada uma defende o pensamento que quiser, mesmo este estando errado aos olhares dos fatos.

 

A história de Messejana é diversa com poucos registros e mesmo assim, certas figuras e grupos que querem criar sua própria história ao contrario de jogar luzes, instituem o período de sombras. Ao informar errado você prejudica a população que desconhece sua história, a evolução do pensamento e da construção de sua cultura.

 

Imagine o exemplo: Para fundar uma associação de moradores, um grupo de pessoas se une em uma data devida, determinam suas leis e passam a atuar e viver sob irmandade. Essas pessoas já existiam e depois de certo ato é uma uniformidade. A associação antes daquilo não existia. O nome dessa mesma associação é criado baseado em fatos e conjuguem pensamentos correntes e não criação de romantismo.

 

Enfim, cada um cria o conto da carochinha que quiser. Contudo, como já diz a máxima, “contra fatos não existem argumentos”. Que os grupos que apóiam a ideia de afirmar que Messejana conta 404 anos, que os mesmos reavaliem e busquem mais informações e não apenas se interessem em criar uma lenda que os beneficiem.

 

Messejana foi fundada em 1º de janeiro de 1760, com direito a ata de fundação e tudo. Agora, sua história remonta muito mais e principalmente pela existência de nativos nessas terras há tempos imemoriais.

 

Para finalizar, a própria arquidiocese de Fortaleza afirma em suas linhas de tempo que os Padres e não apenas o Padre Pinto fundaram o primeiro aldeamento na Serra de Ibiapaba e não em Messejana ou Parangaba ou na Foz do Rio Jaguaribe onde ele desembarcou e por também lá passou. Em Viçosa do Ceará, local onde os Padres e não só o Padre Pinto fundaram essa missão comemoram-se os 400 e poucos anos de passagem dos religiosos por lá. Contudo o aniversário da cidade remonta 1759 quando foi fundada em processo semelhante ao de Messejana, assim como no caso de Caucaia.

 

Repetir uma inverdade para que ela se torne verdade, não é um ensinamento cristão e por isso, ao invés de tentar desfigurar a história, poder-se-ia levar em conta, só para variar, a verdade dos fatos.

 

 

Felipe Neto

 

Historiador formado pela UECE, nascido e residente em Messejana há 28 anos, autor do livro "Muito Além dos Muros do Forte" sobre a História de Messejana e Diretor da Associação de Moradores de Messejana - AMME.



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