O Karatê e a Música – uma relação
 estreita e interessante

 

João Ribeiro

 

 

 

Os Kata executados nos treinamentos de Karatê e suas relações com a Música

 

Em virtude de minha formação acadêmica e práticas musicais ao longo de minha vida musical e também por admirar a prática das artes marciais desde cedo, o Judô, quando criança e particularmente o Karatê (estilo Shotokan), observei repetidas vezes os movimentos variados dos Kata empregados nos treinamentos de Karatê e verifiquei que todos são harmoniosos, independentes de sua velocidade de execução e de suas finalidades. A partir daí notei as semelhanças entre as Artes, o que poderá, em princípio, parecer estranho para muitas pessoas.

 

Deste modo é importante ressaltar que estes comentários não têm a menor pretensão de teorizar sobre a Música, muito menos sobre o Karatê, mas sim mencionar muitas semelhanças entre as duas Artes, a da Música e do Karatê. Karatê e Música? Não tem nada a ver, diriam alguns impensadamente.

 

O que são os Kata no Karatê e a Harmonia, na Música?

 

 

Explicação básica: os Kata consistem basicamente em várias séries de movimentos e golpes de ataque ou defesa que podem ser utilizados na Arte do Karatê.

 

Por outro lado a Harmonia, na Música, consiste em uma série de acordes, encadeamentos de acordes musicais, que devem ser aprendidos de forma a acompanhar e “fazer suporte” à melodia.

 

Se por um lado sem o conhecimento dos movimentos dos Kata não se aprende Karatê, da mesma maneira sem o conhecimento de Harmonia não se pode aprender Música.

 

Quais seriam as aplicações e as vantagens dos movimentos dos Kata?

 

Ora, fácil de explicar: com a cadência e ordem de cada Kata e com a continuidade dos treinamentos o karateca passa a dispor de várias combinações de movimentos (que podem ser de ataque ou de defesa) que podem ser utilizados em diferentes oportunidades.

 

Como tudo isso acontece? Através da prática, experiência, mentalização. E quando esses movimentos de tão assimilados, passam a fazer parte de uma cadeia harmônica de golpes e passos. Neste texto você vai verificar que as semelhanças são tantas que é difícil separar algumas ideias, por sua similitude entre o Karatê e a Música. 

 

E o que tem o Karatê a ver com a Música? Alguns podem perguntar...

A música se divide em melodia, harmonia e ritmo. Música - É a arte de combinar sons de uma maneira agradável e a Melodia significa uma combinação de sons sucessivos; a Harmonia é a combinação de sons simultâneos (acordes); Ritmo, que é uma combinação de valores das notas dispostas no tempo em que são executadas;

 

 

Em primeiro lugar uma simples comparação: se a melodia em cada canção é variada, no karatê as lutas, os combates também são variados. A partir de inúmeras situações as semelhanças aumentam em todos os sentidos.

 

Na Música, os instrumentistas precisam de muita técnica (treinamentos duros e repetitivos, ensaios exaustivos); precisam também da força da mente, do espírito, concentração e de dedicação extrema. Como assimilar e gravar as notas, os acordes, tudo de acordo com o ritmo? Só desta forma, com muito estudo e dedicação.

 

E no Karatê, é a mesma coisa?

 

A resposta é sim. Os karatecas dedicam horas aos ensaios (treinamento dos Kata, por exemplo), exercícios físicos, muito concentração para conseguir os movimentos e praticas das atividades de forma correta.

 

A Harmonia na Música e os Kata no Karatê

 

Um instrumentista desde o começo de seu aprendizado passa por inúmeros e variados treinos e estuda muito Harmonia, que por sua vez tem intensa relação também com a matemática em virtude de sua relação obrigatória com o ritmo.

 

Na Música, em Harmonia musical estudamos desde a formação dos acordes, nas diversas tonalidades e com suas peculiaridades (acordes menores, maiores, diminutos, com quartas ou quintas aumentadas, dissonantes, relativos etc.).

 

Apenas como exemplo, um acorde pode ser produzido em um violão ou em um teclado de diferentes maneiras e posições. Existem as mudanças de tonalidades que forçam as posições serem diferentes para acordes idênticos e assim por diante.

 

Para um leigo em música pode parecer estranho pela nomenclatura utilizada. Se você esta interessado em aprender teoria musical, faz muito bem, afinal ela é uma parte importante na formação de uma pessoa, independentemente da profissão a ser seguida a formação musical é importante culturalmente.

 

É por meio da teoria musical que os sons produzidos nos instrumentos através da ntação musical, tornam-se notas, acordes, sustenidos, bemóis etc. A correta leitura e interpretação de partituras também está dentro desta disciplina que atrai cada vez mais adeptos.

 

E os Kata, no Karatê?

 

As seqüências e os próprios movimentos dos Kata têm um nome específico. Para um leigo também a nomenclatura pode ser estranha. Como exemplo vejamos alguns dos 26 Kata praticados no Karatê Shotokan, com as respectivas quantidades de movimentos: Heian Shodan (21); Heian Nidan (26) e Heian Sandan (20) os quais são sequências, desenvolvidas para treinamento e aperfeiçoamento de técnicas básicas do Grupo HEIAN - Paz (Hei) e tranqüilidade (an).

 

As semelhanças aparecem novamente

 

Os Kata são no Karatê como equivalentes às sequências de acordes em harmonia musical. Ambos servem para desenvolver as técnicas do Músico e do Karateca, respectivamente. O emprego das centenas de acordes musicais em suas diferentes tonalidades e dos variados movimentos dos Kata nos diferentes níveis são utilizados conforme as necessidades de cada arte.

 

Na harmonia musical os treinamentos servem para fornecer suporte à melodia e combinar com o ritmo. E no Karatê os movimentos do Kata podem ser utilizados para defesa ou ataque de acordo com as necessidades ou oportunidade. Tudo muito parecido mesmo, no Karatê e na Música!

 

Há a necessidade de o Karateca aprender todos os Kata e seus movimentos?

 

É claro que sim, pois à medida que o karateca vai assimilando, mentalizando e incorporando à sua mente os diversos movimentos dos Kata (cada um com sua ordem e sequência), as possibilidades de sucesso em sua Arte são maiores e progressivas. A utilização deste ou daquele movimento ou golpe em um luta em uma defesa ou ataque é mais bem sucedida de acordo com a eficácia do treinamento.


Há a necessidade de um Músico conhecer todos os acordes?
A pergunta também poderia ser feita.

 

Conhecer todos os acordes e suas variações é praticamente impossível para um músico. Em virtude das variantes que podem ser adicionadas a eles de acordo com as experiências e a criatividade de todos os músicos do mundo... Mas o conhecimento de todos os acordes básicos, que poderiam ser chamados os “Kata Musicais”, digamos, é de fundamental importância, tanto para a qualidade da harmonia, diversidade, sonoridade e emprego adequado. Do modo que a formação dos acordes é infinita, as diversas variantes dos movimentos dos kata que existem e que podem ser criadas todos os dias por novos praticantes também o são.

 

As técnicas e as velocidades de execução, na Música e no Karatê (mais semelhanças)

 

Na música

 

Quanto mais um músico possui técnica e exercícios constantes, melhores ficam suas execuções musicais. O conhecimento teórico é importante – os acordes, toda a notação musical, as notas, as escalas, o ritmo e suas ligações matemáticas, além da própria História da Música, tudo isso para complementar um praticante de uma arte tão sublime e maravilhosa.

 

No Karatê

 

Para o Karateca é essencial a técnica e o conhecimento dos movimentos, bases, sequências e suas finalidades. Possuidor destes elementos há que associar à força e às técnicas o espírito, a mente, que coordenam todas as ações. E os princípios também, como a História do Karatê, são de fundamental importância para um aprendiz desta Arte Marcial.

 

A disciplina na Música e no Karatê

 

Outro aspecto interessante: o músico ou musicista, nas verdadeiras acepções das palavras, possuem uma disciplina de treinamento, de ensaios, de estudos harmônicos, de leitura de partituras, para bem desempenhar suas funções em um instrumento musical ou como para reger uma orquestra. Tudo isso sem dispensar a formação do caráter, o profissionalismo, a conduta pessoal, o estilo e por aí vai. São anos a fio, e quando mais se aprende mais se descobre que não sabe quase nada ainda...

 

E no Karatê é a mesma coisa. O karateca de verdade tem que ter o respeito necessário ao local de trabalho – o DOJO - pelos seus mestres, treinar com afinco e atenção, aprender os Kata em sua plenitude, desenvolver sua mente para poder coordenar sua força e sua técnica e bem empregar sua arte marcial com oportunidade ou necessidade.

 

A disciplina que o Karateca desenvolve não serve apenas para a luta. É incorporada ao espírito e passa a ser parte integrante do ser com reflexos positivos até em sua estrutura familiar.

 

Bem, ao chegar até aqui acho que demonstrei algumas fortes semelhanças entre estas duas artes magníficas, que utilizam as técnicas, a disciplina, os exercícios, a concentração, a inspiração e todo o trabalho da mente para coordenar as ações, os intuitos, os pensamentos, a vontade.

 

Ao final deste texto ficou para mim uma dúvida que terei que resolver logo... Estabelecer algumas prioridades: deverei treinar com mais afinco e recuperar as técnicas, a agilidade, a desenvoltura e todas as outras condicionantes que me proporcionaram a tocar alguns instrumentos musicais ou então me concentrar nas técnicas e nos movimentos dos primeiros Kata do Karatê, para não decepcionar o meu próprio espírito? Mas estou propenso a fazer as duas coisas, porque sou novo e ainda terei muito tempo, se Deus quiser.

 

Dedico estas simples palavras à Escola Shotokan CGK-DOJO e ao Sensei Ulisses Moreira e ao Sensei Ulisses Júnior, por tudo quanto têm realizado pelo Karatê no Ceará e em particular na formação moral da juventude local. 

 

Oss!                                                  

                                                                          João Ribeiro da Silva Neto

 

 

João Ribeiro - Músico, ex-integrante e fundador do Conjunto Musical Big Brasa (autor do livro “O Big Brasa e Minha Vida Musical”, lançado em Fortaleza, Ceará, em 1999. Analista de Informações, aposentado, na área de Inteligência do Governo Federal (GSI/MTE da Presidência da República). Atualmente é diretor e redator do Instituto Portal Messejana.  

 

 

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